Este aforismo, extraído do Tao-Te King, é um dos mais emblemáticos entre
os seus 81 postulados, pois transcorre numa sequência de máximas paradoxais,
como se refletir quisesse as polaridades yin e yang do antigo pensamento chinês,
para o qual a existência é o resultado de opostos em interação.
A alusão diz respeito não a estados fixos em oposição, mas a ações que
se orientam a sentidos distintos. As circunstâncias – ou mesmo os elementos da
natureza – retraem-se ou expandem-se, enfraquecem-se ou fortalecem-se, mas, em
seus fundamentos, presente está sempre o movimento. Há movimento mesmo no
estado que conhecemos por morte: a matéria se decompõe para criação de novos
organismos, entidades, criaturas.
À realidade em constante mudança devemos nos adaptar, pois tudo flui
como numa espiral: da riqueza à pobreza, do amor ao ódio, da calma à agitação,
do relaxamento à tensão – e daí aos estados iniciais de onde partiram, em
perpétuo trânsito.
Ao fim da mensagem, Lao-Tzu aconselha que se ocultem as armas do Estado,
como o peixe se esconde no fundo do mar. Qualquer combatente experiente há de
concordar que é boa estratégia não exibir de uma vez, aos adversários, todo o
poderio militar que se detém. Afinal, o que se desconhece gera mais temor do
que a demonstração inequívoca das armas na linha de frente de uma batalha.
Além disso, como se pode ter certeza de nossa superioridade militar, se
o adversário estiver empregando as mesmas estratégias, deixando de exibir
alguns de seus recursos mais expressivos? Sob tal enfoque, ninguém é
suficientemente poderoso, para ostentar provocações a quem quer que seja, pois
há limites mesmo para o mais possante dos exércitos!
J.A.R. – H.C.
XXXVI
O que queres
comprimir,
primeiro deves deixar
que se expanda bem.
O que queres
enfraquecer,
primeiro deves deixar
que se fortaleça bem.
O que queres
destruir,
primeiro deves deixar
que desabroche bem.
Àquele de quem queres
tirar,
primeiro deves dar o
bastante.
Chama-se a isso
“conhecer bem o invisível”.
A brandura triunfa
sobre a dureza.
A fraqueza triunfa
sobre a força.
Não se deve tirar o
peixe das profundezas.
Não se deve mostrar
ao povo
os meios de ação do
reino.
(Thomas Wells Schaller: pintor norte-americano)
Referência:
LAO-TZU. XXXVI. In: __________. Tao-Te King: texto e comentário de Richard Wilhelm. Tradução de Margit Martincic.
São Paulo, SP: Pensamento, 2006. p. 72.
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