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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Lao-Tzu - Tao-Te King: XXXVI

Este aforismo, extraído do Tao-Te King, é um dos mais emblemáticos entre os seus 81 postulados, pois transcorre numa sequência de máximas paradoxais, como se refletir quisesse as polaridades yin e yang do antigo pensamento chinês, para o qual a existência é o resultado de opostos em interação.

A alusão diz respeito não a estados fixos em oposição, mas a ações que se orientam a sentidos distintos. As circunstâncias – ou mesmo os elementos da natureza – retraem-se ou expandem-se, enfraquecem-se ou fortalecem-se, mas, em seus fundamentos, presente está sempre o movimento. Há movimento mesmo no estado que conhecemos por morte: a matéria se decompõe para criação de novos organismos, entidades, criaturas.

À realidade em constante mudança devemos nos adaptar, pois tudo flui como numa espiral: da riqueza à pobreza, do amor ao ódio, da calma à agitação, do relaxamento à tensão – e daí aos estados iniciais de onde partiram, em perpétuo trânsito.

Ao fim da mensagem, Lao-Tzu aconselha que se ocultem as armas do Estado, como o peixe se esconde no fundo do mar. Qualquer combatente experiente há de concordar que é boa estratégia não exibir de uma vez, aos adversários, todo o poderio militar que se detém. Afinal, o que se desconhece gera mais temor do que a demonstração inequívoca das armas na linha de frente de uma batalha.

Além disso, como se pode ter certeza de nossa superioridade militar, se o adversário estiver empregando as mesmas estratégias, deixando de exibir alguns de seus recursos mais expressivos? Sob tal enfoque, ninguém é suficientemente poderoso, para ostentar provocações a quem quer que seja, pois há limites mesmo para o mais possante dos exércitos!

J.A.R. – H.C. 


XXXVI

O que queres comprimir,
primeiro deves deixar que se expanda bem.
O que queres enfraquecer,
primeiro deves deixar que se fortaleça bem.
O que queres destruir,
primeiro deves deixar que desabroche bem.
Àquele de quem queres tirar,
primeiro deves dar o bastante.
Chama-se a isso “conhecer bem o invisível”.
A brandura triunfa sobre a dureza.
A fraqueza triunfa sobre a força.
Não se deve tirar o peixe das profundezas.
Não se deve mostrar ao povo
os meios de ação do reino.

Templo Kiyomizu - Kyoto
(Thomas Wells Schaller: pintor norte-americano)

Referência:

LAO-TZU. XXXVI. In: __________. Tao-Te King: texto e comentário de Richard Wilhelm. Tradução de Margit Martincic. São Paulo, SP: Pensamento, 2006. p. 72.

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