O poema em epígrafe aparece em quase todas as
antologias poéticas de Valéry. E o mais estranho é que, apesar das muitas
versões ao inglês, encontráveis na internet, praticamente não se veem traduções
ao português.
Por isso interessei-me em criar uma versão à nossa
língua: não com aquele talento de um Augusto de Campos para integrar ritmo e
rimas – é óbvio! –, mas procurando mesclar, dentro de meus limites,
literalidade com alguma beleza nas palavras.
E para aformosear ainda mais esta postagem,
agreguei um vídeo com a música “Mel” (Waly Salomão & Caetano Veloso),
interpretada pela cantora Maria Bethânia, autêntica “abelha rainha” da MPB,
sucesso no início dos anos 80.
J.A.R. – H.C.
Paul Valéry
(1871-1945)
L’Abeille
Quelle, et si fine, et si
mortelle,
Que soit ta pointe, blonde
abeille,
Je n’ai, sur ma tendre corbeille,
Jeté qu’un songe de dentelle.
Pique du sein la gourde belle
Sur qui l’Amour meurt ou
sommeille,
Qu’un peu de moi même vermeille
Vienne à la chair ronde et rebelle!
J’ai grand besoin d’un prompt tourment:
Un mal vif et bien terminé
Vaut mieux qu’un supplice dormant!
Soit donc mon sens illuminé
Par cette infime alerte d’or
Sans qui l’Amour meurt ou
s’endort!
Voo de Abelhas nº 4
(Delilah Smith: pintora
norte-americana)
The Bee
So deadly delicate your sting!
Yet, O golden bee, I place
Over this soft curve, saddening,
Nothing but a dream of lace.
Prick the breast’s fine gourd and press
Home where love dies, where sleeps his spell!
Thus may some of my rosiness
Rise to the round and stubborn flesh!
I need a hurt that’s keen and swift.
A torment prompt and soon done with
Is better than one that sleeping lies.
O may my body be made warm
By this tiny gold alarm
Without which love sleeps or dies!
Mel
(Interpretação de Maria Bethânia)
Letra: Waly Salomão
Melodia: Caetano Veloso
A Abelha
Por mais que, e tão sutil, e tão
mortal,
Seja o teu aguilhão, fulva
abelha,
Sobre o meu tenro cesto não tenho
Lançado senão mero sonho de rendas.
Pica do meu peito o belo pomo,
Sobre o qual o Amor dorme ou fenece;
Que um pouco de mim mesma enrubescido
Venha à carne em círculos
indômitos.
Sinto ânsia imensa de um pronto
tormento:
Um rápido e bem rematado mal
Vale mais do que um suplício
latente.
Sejam, pois, os meus sentidos
iluminados
Por esse ínfimo alerta de ouro,
Sem o que o Amor finda ou
adormece.
Referências:
Em Francês
VALÉRY, Paul. L’abeille. In: ARLAND, Marcel (Choix
et commentaires). Anthologie de la
poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR):
Éditions Stock, 1960. p. 728.
Em Inglês
VALÉRY, Paul. The Bee. Translated by Lionel Abel. In: __________. Selected writings. Twelfth printing. New York, NY: New Directions Publishing Co., 1964. p. 29.
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tua versão é impecável, adorável
ResponderExcluirBob: muito legal que você tenha gostado.
ResponderExcluirUm abraço.
João A. Rodrigues