Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Paul Valéry - A Abelha

O poema em epígrafe aparece em quase todas as antologias poéticas de Valéry. E o mais estranho é que, apesar das muitas versões ao inglês, encontráveis na internet, praticamente não se veem traduções ao português.

 

Por isso interessei-me em criar uma versão à nossa língua: não com aquele talento de um Augusto de Campos para integrar ritmo e rimas – é óbvio! –, mas procurando mesclar, dentro de meus limites, literalidade com alguma beleza nas palavras.

 

E para aformosear ainda mais esta postagem, agreguei um vídeo com a música “Mel” (Waly Salomão & Caetano Veloso), interpretada pela cantora Maria Bethânia, autêntica “abelha rainha” da MPB, sucesso no início dos anos 80.

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Valéry

(1871-1945)

 

L’Abeille

 

Quelle, et si fine, et si mortelle,

Que soit ta pointe, blonde abeille,

Je n’ai, sur ma tendre corbeille,

Jeté qu’un songe de dentelle.

 

Pique du sein la gourde belle

Sur qui l’Amour meurt ou sommeille,

Qu’un peu de moi même vermeille

Vienne à la chair ronde et rebelle!

 

J’ai grand besoin d’un prompt tourment:

Un mal vif et bien terminé

Vaut mieux qu’un supplice dormant!

 

Soit donc mon sens illuminé

Par cette infime alerte d’or

Sans qui l’Amour meurt ou s’endort!

 

Voo de Abelhas nº 4

(Delilah Smith: pintora norte-americana)

 

The Bee

 

So deadly delicate your sting!

Yet, O golden bee, I place

Over this soft curve, saddening,

Nothing but a dream of lace.

 

Prick the breast’s fine gourd and press

Home where love dies, where sleeps his spell!

Thus may some of my rosiness

Rise to the round and stubborn flesh!

 

I need a hurt that’s keen and swift.

A torment prompt and soon done with

Is better than one that sleeping lies.

 

O may my body be made warm

By this tiny gold alarm

Without which love sleeps or dies!

 

Mel

(Interpretação de Maria Bethânia)

Letra: Waly Salomão

Melodia: Caetano Veloso

 

A Abelha

 

Por mais que, e tão sutil, e tão mortal,

Seja o teu aguilhão, fulva abelha,

Sobre o meu tenro cesto não tenho

Lançado senão mero sonho de rendas.

 

Pica do meu peito o belo pomo,

Sobre o qual o Amor dorme ou fenece;

Que um pouco de mim mesma enrubescido

Venha à carne em círculos indômitos.

 

Sinto ânsia imensa de um pronto tormento:

Um rápido e bem rematado mal

Vale mais do que um suplício latente.

 

Sejam, pois, os meus sentidos iluminados

Por esse ínfimo alerta de ouro,

Sem o que o Amor finda ou adormece.

 

Referências:

 

Em Francês

 

VALÉRY, Paul. L’abeille. In: ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 728.

 

Em Inglês

 

VALÉRY, Paul. The Bee. Translated by Lionel Abel. In: __________. Selected writings. Twelfth printing. New York, NY: New Directions Publishing Co., 1964. p. 29.

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