A poetisa paulista resgata todas as dimensões que um escritor pode
assumir em sua labuta, no ato cotidiano de espicaçar a linguagem até os seus
limites, assim como ela própria o faz em sua obra “O Caderno Rosa de Lori Lamby”,
na qual se vê um exercício de transgressão e de acinte ao pudor.
Hilst vê esse Caderno Rosa como um bem residual ofertado aos leitores, tal qual um cerimonial de “Potlatch”. E mais: sem receio nem pejo de haver
incorrido em erro, pois apenas se pode falar em liberdade se a possibilidade
de fracassar estiver inserida nos considerandos.
J.A.R. – H.C.
Hilda Hilst
(1930-2004)
O escritor e seus múltiplos
O escritor e seus
múltiplos vêm nos dizer adeus.
Tentou na palavra o
extremo-tudo
E esboçou-se santo,
prostituto e corifeu. A infância
Foi velada: obscura
teia da poesia e da loucura.
A juventude apenas
uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página
Depois, transgressor
metalescente de percursos
Colocou-se à
compaixão, abismos e à sua própria sombra
Poupem-me os desperdícios
de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a
obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é
apenas resíduo de um “Potlatch”.
E hoje, repetindo
Bataille:
“Sinto-me livre para
fracassar”.
Poema publicado na contracapa da
primeira edição de “Amavisse”
(São Paulo: Massao Ohno, 1989)
Muitos Eus
(Cristina Troufa:
artista portuguesa)
Referência:
HILST, Hilda. O escritor e seus
múltiplos. In: __________. Uma
superfície de gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst. Seleção,
organização e apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 78
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