Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Hilda Hilst - O escritor e seus múltiplos

A poetisa paulista resgata todas as dimensões que um escritor pode assumir em sua labuta, no ato cotidiano de espicaçar a linguagem até os seus limites, assim como ela própria o faz em sua obra “O Caderno Rosa de Lori Lamby”, na qual se vê um exercício de transgressão e de acinte ao pudor.

Hilst vê esse Caderno Rosa como um bem residual ofertado aos leitores, tal qual um cerimonial de “Potlatch”. E mais: sem receio nem pejo de haver incorrido em erro, pois apenas se pode falar em liberdade se a possibilidade de fracassar estiver inserida nos considerandos.

J.A.R. – H.C.

Hilda Hilst
(1930-2004)

O escritor e seus múltiplos

O escritor e seus múltiplos vêm nos dizer adeus.
Tentou na palavra o extremo-tudo
E esboçou-se santo, prostituto e corifeu. A infância
Foi velada: obscura teia da poesia e da loucura.
A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página
Depois, transgressor metalescente de percursos
Colocou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra
Poupem-me os desperdícios de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é apenas resíduo de um “Potlatch”.
E hoje, repetindo Bataille:
“Sinto-me livre para fracassar”.

Poema publicado na contracapa da
primeira edição de “Amavisse”
(São Paulo: Massao Ohno, 1989)

Muitos Eus
(Cristina Troufa: artista portuguesa)

Referência:

HILST, Hilda. O escritor e seus múltiplos. In: __________. Uma superfície de gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst. Seleção, organização e apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 78

Nenhum comentário:

Postar um comentário