O Gîtâ (“Canção de Deus”, em sânscrito) principia antes do clímax da Guerra
Kurukshetra, na qual o príncipe Pandava Arjuna se vê assolado por dúvidas no
campo de batalha. Percebendo que seus inimigos são os seus próprios parentes,
amigos queridos e reverenciados, ele se vira para o seu cocheiro e guia, Krishna,
rogando-lhe conselhos. Em resposta à desorientação e ao dilema moral de Arjuna,
Krishna o instrui sobre os seus deveres como guerreiro e príncipe, proferindo
uma variedade de conceitos filosóficos, vale dizer, atinentes à ciência da
autorrealização e da consubstanciação da unidade no divino.
O excerto abaixo traduz o momento exato em que Krishna, a representação
da divindade, estimulado pela curiosidade de Arjuna, enuncia-lhe os seus
poderes e formas de manifestação neste plano da realidade.
J.A.R. – H.C.
Krishna Instrui Arjuna
(Jadurani Devi Dasi:
artista norte-americana)
A Excelência Divina
(Excerto)
(...)
32. De toda a
criação, Eu sou o princípio,
o meio e o fim. Das
ciências, sou a ciência do
Espírito e o verbo
dos oradores.
33. Das letras, sou o
A; nas palavras a conjunção.
Eu sou o tempo
perdurável e Aquele cuja
face se volta para
todas as partes.
34. Eu sou tanto a
Morte, que não poupa
a ninguém, como o
Renascimento, que dissolve
a Morte. Eu sou a
Glória, a Fortuna, a Eloquência,
a Memória, o Juízo, a
Força, a Fidelidade,
a Paciência.
35. Entre os cantos,
sou o Hino Sublime;
entre os versos, sou
o Verso Místico. Entre as
estações, sou a
primavera; entre os meses, sou
o mês mais frutífero.
36. Eu sou a sorte
entre os jogadores, e o
Esplendor de tudo o
que brilha. Eu sou a Valentia
e a Vitória; Eu sou a
Bondade dos bons.
37. Eu sou o chefe de
grandes tribos e famílias;
Eu sou o Sábio dos
sábios, o Poeta dos
poetas, o Bardo dos
bardos, o vidente dos videntes,
o Profeta.
38. Para os
governadores, sou o Cetro do
poder; entre os
estadistas e conquistadores, sou
a Diplomacia e a
Política. Sou o Silêncio dos
segredos, e o Saber
dos eruditos.
39. Em suma, ó
príncipe! Eu sou Aquilo
que é o princípio
essencial na semente de todos
os seres e de todas
as coisas na Natureza; cada
ser, animado ou
inanimado, é por Mim penetrado,
e, sem Mim, nada pode
existir nem por um instante.
40. Sem fim são as
minhas manifestações
divinas, ó Arjuna! Só
exemplos delas te apresentei.
Os meus poderes são
infinitos em qualidade
e variedade.
41. Todo ser e toda
coisa são o produto
de uma infinitésima
porção do meu Poder e
da minha Glória.
42. Mas para que mais
minúcias, ó príncipe?
Sabes que Eu sustento
todo este universo continuamente,
só com um
infinitesimal fragmento de Mim mesmo.
Parthasarathi
(Sriman Pariksit Dasa:
artista norte-americano)
Referência:
A excelência divina (excerto). In: BHAGAVAD-GÎTÂ: a mensagem do mestre.
Tradução de Francisco Valdomiro Lorens. 22. ed. São Paulo, SP: Pensamento, 2000.
p. 115-116.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário