Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Marianne More - Poesia

Com duas versões apresentadas sob o mesmo título – “Poetry” (“Poesia”) – a escritora e poetisa norte-americana sintetizou a versão original, com 29 linhas, para outra mais curta, com apenas três, e incluiu a versão mais longa ao final de seus “Complete Poems” (“Poemas Completos”), para que os leitores pudessem ter uma ideia do impacto da supressão das passagens que promovera.

Na versão mais longa, Marianne é suficientemente didática ao singularizar o tipo de poesia que abomina, e o que, diversamente, admira. No primeiro caso, ela adjetiva a poesia como um “desatino”, uma vez centrada em temas poéticos estereotipados, carentes de autenticidade, com escrita altissonante que por vezes resulta em falta de clareza. No segundo, Marianne oferece uma espécie de modelo para o que seja a “genuína” poesia, a combinar imaginação e realidade, ou em suas palavras, “jardins imaginários com sapos reais”.

J.A.R. – H.C.

Marianne More
(1887-1972)

Poetry
(Versão Original)

I, too, dislike it: there are things that are important beyond all this fiddle.
Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in
it, after all, a place for the genuine.
Hands that can grasp, eyes
that can dilate, hair that can rise
if it must, these things are important not because a

high-sounding interpretation can be put upon them but because they are
useful. When they become so derivative as to become unintelligible,
the same thing may be said for all of us, that we
do not admire what
we cannot understand: the bat
holding on upside down or in quest of something to

eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll, a tireless wolf under
a tree, the immovable critic twitching his skin like a horse
that feels a flea, the baseball
fan, the statistician −
nor is it valid
to discriminate against “business documents and

school-books”; all these phenomena are important. One must make a distinction
however: when dragged into prominence by half poets, the result is not poetry,
nor till the poets among us can be
“literalists of
the imagination” − above
insolence and triviality and can present

for inspection, “imaginary gardens with real toads in them,” shall we have
it. In the meantime, if you demand on the one hand,
the raw material of poetry in
all its rawness and
that which is on the other hand
genuine, you are interested in poetry.

Princesa-rã
(Autoria Desconhecida)

Poesia

Eu também a abomino: há coisas mais importantes do que todo esse desatino.
Lendo-a, todavia, com total desdém, é possível que se presuma
ali, afinal, um lugar para o genuíno.
Olhos dilatados, frio
nas mãos, arrepio,
nos cabelos, essas coisas não são importantes porque uma

interpretação altissonante as pode moldar, mas porque são
úteis. Quando elas se tornam tão derivativas a ponto de ficarem ininteligíveis,
o mesmo vale para todos nós, a gente
não sente
o que não entende; morcego de ponta-
cabeça à busca de alguma

janta, tranco de elefantes, pinote de potranca, lobo sem des-
canso à caça, o indefectível crítico a torcer
a pele como um cavalo com pulgas, o fã de beise-
bol, o estatístico,
nem é lícito
discriminar “os documentos comerciais e os

livros escolares”, todos esses fenômenos são importantes. Com uma distinção,
porém; quando enaltecidos por semipoetas, o resultado não é poesia,
nem até que os nossos poetas possam ser
“literalistas da
imaginação” – desistam da
insolência e da trivialidade e possam oferecer

para inspeção, “jardins imaginários com sapos reais”, chegaremos a obtê-
la. Nesse ínterim, se você demandar, por uma via,
a matéria bruta da poesia em
toda a sua bruteza e,
por outra via, o que é
genuíno, então você se interessa por poesia.

Poetry
(Versão Abreviada)

I, too, dislike it.
Reading it, however, with a perfect contempt for it, one discovers in
it, after all, a place for the genuine.

Poesia

Eu também a abomino.
Lendo-a, porém, com total desdém, a gente des-
cobre ali, afinal, um lugar para o genuíno.

Referências:

Em Inglês - versão original

MOORE, Marianne. Poetry. In: __________. Complete poems. London (EN): Faber and Faber, 1967. p. 266-267.

Em Inglês - versão abreviada

MOORE, Marianne. Poetry. In: __________. Complete poems. London (EN): Faber and Faber, 1967. p. 36.

Em Português

MOORE, Marianne. Poesia (ambas as versões). Tradução de Augusto de Campos. Disponível no endereço eletrônico da revista Musa Rara. Acesso em: 20 abr. 2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário