Com duas versões apresentadas sob o mesmo título – “Poetry” (“Poesia”) –
a escritora e poetisa norte-americana sintetizou a versão original, com 29
linhas, para outra mais curta, com apenas três, e incluiu a versão mais longa
ao final de seus “Complete Poems” (“Poemas Completos”), para que os leitores
pudessem ter uma ideia do impacto da supressão das passagens que promovera.
Na versão mais longa, Marianne é suficientemente didática ao singularizar
o tipo de poesia que abomina, e o que, diversamente, admira. No primeiro caso, ela
adjetiva a poesia como um “desatino”, uma vez centrada em temas poéticos
estereotipados, carentes de autenticidade, com escrita altissonante que por
vezes resulta em falta de clareza. No segundo, Marianne oferece uma espécie de
modelo para o que seja a “genuína” poesia, a combinar imaginação e realidade,
ou em suas palavras, “jardins imaginários com sapos reais”.
J.A.R. – H.C.
Marianne More
(1887-1972)
Poetry
(Versão Original)
I, too, dislike it: there are things that are
important beyond all this fiddle.
Reading it, however, with a perfect contempt for
it, one discovers in
it, after all, a place for the genuine.
Hands that can grasp, eyes
that can dilate, hair that can rise
if it must, these things are important not because
a
high-sounding interpretation can be put upon them
but because they are
useful. When they become so derivative as to become
unintelligible,
the same thing may be said for all of us, that we
do not admire what
we cannot understand: the bat
holding on upside down or in quest of something to
eat, elephants pushing, a wild horse taking a roll,
a tireless wolf under
a tree, the immovable critic twitching his skin
like a horse
that feels a flea, the baseball
fan, the statistician −
nor is it valid
to discriminate against “business documents and
school-books”; all these phenomena are important.
One must make a distinction
however: when dragged into prominence by half
poets, the result is not poetry,
nor till the poets among us can be
“literalists of
the imagination” − above
insolence and triviality and can present
for inspection, “imaginary gardens with real toads
in them,” shall we have
it. In the meantime, if you demand on the one hand,
the raw material of poetry in
all its rawness and
that which is on the other hand
genuine, you are interested in poetry.
Princesa-rã
(Autoria Desconhecida)
Poesia
Eu também a abomino:
há coisas mais importantes do que todo esse desatino.
Lendo-a, todavia, com
total desdém, é possível que se presuma
ali, afinal, um lugar
para o genuíno.
Olhos dilatados, frio
nas mãos, arrepio,
nos cabelos, essas
coisas não são importantes porque uma
interpretação
altissonante as pode moldar, mas porque são
úteis. Quando elas se
tornam tão derivativas a ponto de ficarem ininteligíveis,
o mesmo vale para
todos nós, a gente
não sente
o que não entende;
morcego de ponta-
cabeça à busca de
alguma
janta, tranco de
elefantes, pinote de potranca, lobo sem des-
canso à caça, o
indefectível crítico a torcer
a pele como um cavalo
com pulgas, o fã de beise-
bol, o estatístico,
nem é lícito
discriminar “os
documentos comerciais e os
livros escolares”,
todos esses fenômenos são importantes. Com uma distinção,
porém; quando
enaltecidos por semipoetas, o resultado não é poesia,
nem até que os nossos
poetas possam ser
“literalistas da
imaginação” – desistam
da
insolência e da
trivialidade e possam oferecer
para inspeção, “jardins
imaginários com sapos reais”, chegaremos a obtê-
la. Nesse ínterim, se
você demandar, por uma via,
a matéria bruta da
poesia em
toda a sua bruteza e,
por outra via, o que
é
genuíno, então você
se interessa por poesia.
Poetry
(Versão Abreviada)
I, too, dislike it.
Reading it, however, with a perfect contempt for
it, one discovers in
it, after all, a place for the genuine.
Poesia
Eu também a abomino.
Lendo-a, porém, com
total desdém, a gente des-
cobre ali, afinal, um
lugar para o genuíno.
Referências:
Em Inglês - versão original
MOORE, Marianne. Poetry. In: __________.
Complete poems. London (EN): Faber and Faber, 1967. p. 266-267.
Em Inglês - versão abreviada
MOORE, Marianne. Poetry. In: __________. Complete poems. London (EN): Faber and Faber, 1967. p. 36.
Em Português
MOORE, Marianne. Poesia (ambas as
versões). Tradução de Augusto de Campos. Disponível no endereço eletrônico da
revista Musa
Rara. Acesso em: 20 abr. 2016.
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