Neste poema, Whitman tece loas à locomotiva, símbolo do progresso
norte-americano em fins do século XIX. Ora lhe parece que a propulsão do
engenho assemelha-se com a batida de um coração, levando em movimento todo o
seu corpo cilíndrico; ora permite-se fixar na maravilhosa panóplia de atributos
eletromecânicos da máquina – chassi, molas, válvulas, lâmpadas.
Seja o que de sua imagem venha a emergir, quer do puro mecanismo impulsor, quer da
integração com as paisagens naturais de lagos, montanhas e pradarias, a
locomotiva, em sua dinâmica, permite-se enquadrar à perfeição tanto como símbolo
de avanço tecnológico, quanto como objeto de reverência poética.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
To a Locomotive
in Winter
Thee for my recitative,
Thee in the driving storm even as now, the snow,
the winter-day declining,
Thee in thy panoply, thy measur’d dual throbbing
and thy beat convulsive,
Thy black cylindric body, golden brass and silvery
steel,
Thy ponderous side-bars, parallel and connecting
rods, gyrating, shuttling at
thy sides,
Thy metrical, now swelling pant and roar, now
tapering in the distance,
Thy great protruding head-light fix’d in front,
Thy long, pale, floating vapor-pennants, tinged
with delicate purple,
The dense and murky clouds out-belching from thy
smoke-stack,
Thy knitted frame, thy springs and valves, the
tremulous twinkle of thy wheels,
Thy train of cars behind, obedient, merrily
following,
Through gale or calm, now swift, now slack, yet
steadily careering;
Type of the modern − emblem of motion and power −
pulse of the continent,
For once come serve the Muse and merge in verse,
even as here I see thee,
With storm and buffeting gusts of wind and falling
snow,
By day thy warning ringing bell to sound its notes,
By night thy silent signal lamps to swing.
Fierce-throated beauty!
Roll through my chant with all thy lawless music,
thy swinging lamps at night,
Thy madly-whistled laughter, echoing, rumbling like
an earth-quake, rousing all,
Law of thyself complete, thine own track firmly
holding,
(No sweetness debonair of tearful harp or glib
piano thine,)
Thy trills of shrieks by rocks and hills return’d,
Launch’d o’er the prairies wide, across the lakes,
To the free skies unpent and glad and strong.
A Locomotiva
(Claude Monet: pintor
francês)
Para uma locomotiva no inverno
Tu, pela minha
narrativa,
Tu, na propulsão da
tempestade, tal como agora, a neve, o dia de inverno terminado,
Tu, em tua panóplia,
tua compassada palpitação dupla e tua batida compulsiva,
Teu negro corpo
cilíndrico, placa dourada e teu metal prateado,
Tuas pesadas barras
laterais, barras paralelas e de conexão, girando, correndo em teus flancos,
Teu ritmo, resfolego
e ronco agora dilatados, que se afilam na distância,
Teu grande farol
projetado, fixado na frente,
Teus longos, pálidos,
flutuantes estandartes de vapor, tingidos de delicados tons purpúreos,
As nuvens densas e
sombrias vomitadas de tua chaminé,
Teu chassi tricotado,
tuas molas e válvulas, a cintilação trêmula de tuas rodas,
A sequência de vagões
atrelados a ti, obedientes, apenas seguindo,
Através do vendaval
ou da calmaria, agora rápida, agora lenta, porém sempre avançando,
continuamente,
Modelo do que é
moderno – emblema do movimento e do poder – pulso do continente,
Desta vez, vem servir
à Musa e fundir-te em versos, pois que também aqui te vejo,
Com tempestade e
rajadas de vento e a neve que cai,
De dia, o toque de
teus sinos alerta pelo som de suas notas,
À noite, teus
silenciosos sinais no balança das lâmpadas.
Beleza feita de
garganta ameaçadora!
Desliza através de
meus cantos com tua música sem lei, tuas lâmpadas agitadas durante a noite,
Tua risada feita de
um assobio louco, ecoando, roncando como um terremoto, a todos inflamando,
Lei completa de ti
mesma, em teus próprios trilhos firmemente agarrada,
(Tua não é a doçura
cortês da harpa que faz chorar ou do pião lisonjeiro)
As vibrações de teus
guinchos devolvidas pelas rochas e montanhas,
Lançadas sobre as
amplas pradarias, através dos lagos,
fechada para os
livres céus e alegre e forte.
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. To a locomotive in winter . In: __________. Leaves of grass. A textual variorum of the printed poems. Volume III: Poems,
1870-1891. Edited by Sculley Bradley et al. New York, NY: New York University
Press, 1980. p. 666-667.
Em Português
WHITMAN, Walt. Para uma locomotiva no
inverno. In: __________. Folhas de relva.
Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo
(SP): Martin Claret, 2012. p. 451-452. (Série Ouro: Coleção A Obra-Prima de
Cada Autor, n. 42)
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