Mais um poema de Stevens a incorporar o cerne de suas mais frequentes
criações: o liame entre a imaginação e a realidade. O homem da neve é uma
esfinge humana, imbricada na relação entre a “substância” do ouvinte e a do
elemento “neve” objeto de observação, uma substância capaz de estar “ausente” e
“presente” a um só tempo.
O poema é um convite e um estímulo às mais distintas interpretações.
Sentindo o nada em si mesmo, o ouvinte parece contemplar duas naturezas diante
de si: a que está disponível para a percepção sensorial e a que não está
disponível, senão apenas à imaginação.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The Snow Man
One must have a mind of winter
To regard the frost and the boughs
Of the pine-trees crusted with snow;
And have been cold a long time
To behold the junipers shagged with ice,
The spruces rough in the distant glitter
Of the January sun; and not to think
Of any misery in the sound of the wind,
In the sound of a few leaves,
Which is the sound of the land
Full of the same wind
That is blowing in the same bare place
For the listener, who listens in the snow,
And, nothing himself,
beholds
Nothing that is not there and the nothing that is.
Homem Maduro na Neve
(Peter Booth: pintor
australiano)
O Homem de Neve
É preciso ter um espírito
de inverno
Para admirar a geada
e os ramos
Dos pinheiros com crostas
de neve;
E por longo tempo
fazer frio
Para contemplar os
zimbros eriçados com gelo,
Os abetos agrestes no
brilho distante
Do sol de janeiro; e
não pensar
Em qualquer miséria
no som do vento,
No som de umas
quantas folhas,
Que é o som da terra
Cheia do mesmo vento
Que está a soprar no
mesmo lugar vazio
Para o ouvinte, que
escuta na neve,
E, despojado de si mesmo, observa
O nada que não está e
o nada que está ali.
Referência:
STEVENS, Wallace. The snow man. In: __________. The collected poems. Harmonium. 11. ed. New York, NY: Alfred A.
Knopf. Inc., feb. 1971. p. 9-10.
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