Com aquele tom pessimista e apocalíptico que lhe é característico,
Montale formula de modo algo distinto a mesma ideia nietzschiana de que Deus
esteja morto.
Deus, alheio à história e às nossas angústias, seria uma concepção, segundo o poeta, já meio caduca entre os homens, muito embora possa convergir para a
busca de um conhecimento mais esmerado do mundo, por remeter às instâncias
superiores do ser, à eternidade.
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
La Morte di Dio
Tutte le religioni
del Dio unico
sono una sola:
variano i cuochi e le cotture.
Così rimuginavo; e
m’interruppi quando
tu scivolasti
vertiginosamente
dentro la scala a
chiocciola della Périgourdine
e di laggiù ridesti a
crepapelle.
Fu una buona serata
con un attimo appena
di spavento. Anche il
papa
in Israele disse la
stessa cosa
ma se ne pentì quando
fu informato
che il sommo
Emarginato, se mai fu,
era perento.
A Lamentação
(Anthony van Dyck:
pintor flamengo)
A Morte de Deus
Todas as religiões do
Deus único
são uma só: variam o
cozimento e os cozinheiros.
Assim ruminava eu; e
interrompi-me quando
escorregaste
vertiginosamente
pela escada em
caracol do Périgourdine
e embaixo riste a
bandeiras despregadas.
Foi uma noite gostosa
com apenas um instante
de susto. Até o papa
em Israel disse a
mesma coisa
mas se arrependeu
quando foi informado
de que o sumo
Marginado, se jamais existiu,
estava perempto.
Referência:
MONTALE, Eugenio. La morte di Dio. In:
__________. Poesias. Edição
bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de
Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 118;
em português: p. 119.
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