Da lavra do epigrafado poeta catarinense, este poema demarca todas as
instâncias possíveis, quaisquer que sejam as latitudes ou longitudes, a partir
das quais se torna possível alcançar o “condado do amor”.
Trata-se de um “mapa azul de infância”, quer seja dia quer noite, por
onde a imaginação resgata indeléveis esperanças de trilhar a estrada que leva à
epifania da mais profunda emoção humana.
J.A.R. – H.C.
(1922-2001)
Mapa
Ao norte, a torre
clara, a praça, o eterno encontro,
A confidência muda
com teu rosto por jamais.
A leste, o mar, o
verde, a onda, a espuma,
Esse fantasma longe,
barco e bruma,
O cais para a partida
mais definitiva
A uma distância
percorrida em sonho:
Perfume da lonjura, a
cidade santa.
O oeste, a casa
grande, o corredor, a cama:
Esse carinho intenso
de silêncio e banho.
A terra a oeste, essa
ternura de pianos e janelas abertas
A rua em que
passavas, o abano das sacadas: o morro e o
cemitério e as glicínias.
Ao sul, o amor, toda
a esperança, o circo, o papagaio, a
nuvem: esse varal de vento,
No sul iluminado o
pensamento no sonho em que te sonho
Ao sul, a praia, o
alento, essa atalaia ao teu país
Mapa azul da
infância:
O jardim de rosas e
mistério: o espelho.
O nunca além do muro,
além do sonho o nunca
E as avenidas que
percorro aclamado e feliz.
Antes o sol no seu
mais novo raio,
O acordar cotidiano
para o ensaio do céu,
Preto e branco e
girando: andorinha e terral.
Depois a noite de
cristal e fria,
A noite das estrelas
e das súbitas sanfonas afastadas,
Tontura de
esperanças: essa mistura de beijos e de danças
pela estrada
Numa eterna chegada
ao condado do Amor.
(Em: “Armadura do Amor”)
Luz do Amor
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
Referência:
REIS, Marcos Konder. Mapa. In: BISHOP, Elizabeth; BRASIL, Emanuel (Eds.). An anthology of twentieth-century brazilian poetry. Bilingual edition. Hanover, NH: Wesleyan University Press, 1972. p. 166.
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