A poetisa norte-americana Jane Kenyon retrata o que há de mais
contingente no seu quotidiano, ao reconhecer que não há experiências
necessárias, mas experiências alternativas, que, se não forem de um modo, serão
de outro.
Aliás, a vida de um ser humano, neste plano, dificilmente trilha o eito
do que fora planejado desde o seu início. Há tantos fatos que nos alcançam de
forma inopinada, que seria capaz de afirmar que eles configuram a parcela maior
da experiência, em detrimento daquilo que um dia postulamos seguir de modo
preconcebido.
J.A.R. – H.C.
Jane Kenyon
(1947-1995)
Otherwise
I got out of bed
on two strong legs.
It might have been
otherwise. I ate
cereal, sweet
milk, ripe, flawless
peach. It might
have been otherwise.
I took the dog uphill
to the birch wood.
All morning I did
the work I love.
At noon I lay down
with my mate. It might
have been otherwise.
We ate dinner together
at a table with silver
candlesticks. It might
have been otherwise.
I slept in a bed
in a room with paintings
on the walls, and
planned another day
just like this day.
But one day, I know,
it will be otherwise.
Descanso do Trabalho
(Van Gogh: pintor
holandês)
De outro modo
Usei a força das
minhas duas pernas
para me levantar da
cama.
Poderia ter sido
de outro modo. Comi
cereais – com leite
e doce – e um pêssego
perfeito e maduro.
Poderia
ter sido de outro
modo.
Subi a encosta com o
cão
até ao bosque dos
vidoeiros.
Durante toda a manhã
fiz o trabalho que
adoro.
Ao meio-dia deitei-me
com o meu
companheiro. Poderia
ter sido de outro
modo.
Jantámos juntos
numa mesa com
castiçais
de prata. Poderia
ter sido de outro
modo.
Dormi numa cama
num quarto com
quadros
nas paredes, e
planeei um novo dia
igual ao de hoje.
Mas um dia, eu sei,
será de outro modo.
Referência:
KENYON, Jane. Otherwise. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Coords.). American’s favorite poems: the favorite
poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 153.
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