Eis aqui um poema que faz fronteira com insinuante dilema filosófico,
qual seja, a ideia platônica de que há um mundo indefinido e desconhecido para
além da nossa percepção, traduzido em dicotomias como presença e ausência,
coisa e percepção da coisa.
A relação entre um objeto presente, no mundo real, e a sua forma ideal,
no mundo das ideias, passa pela famosa ilustração da “Alegoria da Caverna”. Mas
se ausente a sombra ou o rastro sobre a neve, nem por isso o galho deixa de
existir. Nesse contexto, sem estar no interior da caverna, a poetisa vê o real
e o ideal fundidos no apetrecho que tem em mãos.
J.A.R. – H.C.
Ann Lauterbach
(n. 1942)
Platonic
Subject
Momentum and wash of the undefined,
as if clarity fell through the sieve of perception,
announced as absence of image.
But here is a twig in the form of a wishbone.
Aroused, I take it, and leave its outline
scarred in snow which the sun will later heal:
form of the real melts back into the ideal
and I have a twig.
(1987)
Platão e Aristóteles
Detalhe de “A Escola
de Atenas”
(Rafael Sanzio:
pintor italiano)
Tema Platônico
Ímpeto e voragem do
indefinido,
como se a claridade minguasse
pelo crivo da percepção,
anunciada como
ausência de imagem.
Mas eis aqui um galho
forquilhado.
Desperta, eu o tomo,
e deixo o seu contorno
lancetado na neve,
que o sol mais tarde há de curar:
a forma do real se
funde de novo no ideal
e volto a ter um
galho.
Referência:
LAUTERBACH, Ann. Platonic subject. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton
anthology. New York (NY): W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 409.
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