Um pedreiro, como um poeta, busca percorrer, em sua arte concreta, todos
os espaços poéticos que lhe são permitidos em seu ofício. E nisso, experimenta,
segundo o poeta espanhol Miguel Hernández, séria coação à sua própria liberdade
e perigosa ameaça de destruição pessoal.
Essa visão filosófica e trágica da vida talvez tenha certa correlação
com a própria história do poeta, que, enquanto edificava um prédio ideal,
estava, paralelamente, levantando a sua antítese, qual seja, a própria prisão,
de forma a experimentar o naufrágio de seu sonho num mar de realidade.
J.A.R. – H.C.
Miguel Hernández
(1910-1942)
Sepultura de la Imaginación
Un albañil quería...
No le faltaba aliento.
Un albañil quería,
piedra tras piedra, muro
tras muro, levantar
una imagen al viento
desencadenador en el
futuro.
Quería un edificio
capaz de lo más leve.
No le faltaba
aliento. ¡Cuánto aquel ser quería!
Piedras de plumas,
muros de pájaros los mueve
una imaginación al
mediodía.
Reía. Trabajaba.
Cantaba. De sus brazos,
con un poder más alto
que el ala de los truenos
iban brotando muros
lo mismo que aletazos.
Pero los aletazos
duran menos.
Al fin, era la piedra
su agente. Y la montaña
tiene valor de vuelo
si es totalmente activa.
Piedra por piedra es
peso y hunde cuanto acompaña
aunque esto sea un
mundo de ansia viva.
Un albañil quería...
Pero la piedra cobra
su torva densidad
brutal en un momento.
Aquel hombre labraba
su cárcel. Y en su obra
fueron precipitados
él y el viento.
(Em: “Últimos Poemas”, 1939-1941)
Além da Imaginação
(Neil Simone: pintor
inglês)
Sepultura da Imaginação
Um pedreiro queria...
Não lhe faltava fôlego.
Um pedreiro queria,
pedra após pedra, parede
após parede,
construir uma imagem ao vento
que desencadeasse no
futuro.
Queira um prédio que
fosse o mais leve.
Não lhe faltava
fôlego. Quanto aquele ser queria!
Pedras de penas,
paredes de pássaros movidas por
uma imaginação ao
meio-dia.
Ria. Trabalhava.
Cantava. De seus braços,
com um poder mais
elevado que a asa dos trovões
iam brotando paredes,
bem como batidas de asas.
Porém batidas de asas
duram menos.
Ao fim, a pedra era o
seu agente. E a montanha
tem valor de voo se é
totalmente ativa.
Pedra sobre pedra
desmorona se muito peso as acompanha
ainda que isto seja
um mundo de ânsia viva.
Um pedreiro queria...
Porém a pedra cobra
sua terrível e brutal
densidade em um momento.
Aquele homem cultivava
a sua prisão. E em sua obra
foram precipitados
ele e o vento.
Referência:
HERNÁNDEZ, Miguel. Sepultura de la
imaginación. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia
y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p. 107.
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