Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Octavio Paz - Movimento

Num poema que sugere o ritmo cíclico do ir e vir das ondas do mar, Octavio Paz propõe metáforas definidoras tanto para o detentor da voz poética – presumivelmente ele próprio –, quanto para a provável interlocutora, sua amada.

Como se poderá notar, as metáforas empregadas não são tão simples ou imediatas, instigando o leitor para além da sua margem de conforto, no afã de imputar-lhes um sentido válido, frente aos discursos alternados, plasmados pelos vínculos com o feminino e o masculino.

No meio de todo esse ciclo de sentenças, uma apenas se repete: “eu sou o caminho de sangue”, abrindo e fechando a fala do poeta, a denotar conexão com a ideia de um rio voluntarioso a espicaçar o fluxo da vida.

J.A.R. – H.C.

Octavio Paz
(1914-1998)

Movimiento

Si tú eres la yegua de ámbar
yo soy el camino de sangre
Si tú eres la primer nevada
yo soy el que enciende el brasero del alba
Si tú eres la torre de la noche
yo soy el clavo ardiendo en tu frente
Si tú eres la marea matutina
yo soy el grito del primer pájaro
Si tú eres la cesta de naranjas
yo soy el cuchillo de sol
Si tú eres el altar de piedra
yo soy la mano sacrílega
Si tú eres la tierra acostada
yo soy la caña verde
Si tú eres el salto del viento
yo soy el fuego enterrado
Si tú eres la boca del agua
yo soy la boca del musgo
Si tú eres el bosque de las nubes
yo soy el hacha que las parte
Si tú eres la ciudad profanada
yo soy la lluvia de consagración
Si tú eres la montaña amarilla
yo soy los brazos rojos del liquen
Si tú eres el sol que se levanta
yo soy el camino de sangre

Dança em Tehuantepec
(Diego Rivera: pintor mexicano)

Movimento

Se tu és a égua de âmbar
eu sou o caminho de sangue
Se tu és o primeiro nevão
eu sou quem acende a fogueira da madrugada
Se tu és a torre da noite
eu sou o cravo ardendo em tua fronte
Se tu és a maré matutina
eu sou o grito do primeiro pássaro
Se tu és a cesta de laranjas
eu sou o punhal de sol
Se tu és o altar de pedra
eu sou a mão sacrílega
Se tu és a terra deitada
eu sou a cana verde
Se tu és o salto do vento
eu sou o fogo oculto
Se tu és a boca da água
eu sou a boca do musgo
Se tu és o bosque das nuvens
eu sou o machado que as corta
Se tu és a cidade profunda
eu sou a chuva da consagração
Se tu és a montanha amarela
eu sou os braços vermelhos do líquen
Se tu és o sol que se levanta
eu sou o caminho de sangue

De: “Salamandra” (1958-1961)

Referência:

Em espanhol

PAZ, Octavio. Movimiento. Disponível neste endereço. Acesso em: 7 jan 2016.

Em português

PAZ, Octavio. Movimento. In: __________. Antologia poética: 1935-1975. Organização e tradução de Luis Pignatelli. 2. ed. Lisboa, PT: Publicações Dom Quixote, 1998. p. 70.

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