Num poema que sugere o ritmo cíclico do ir e vir das ondas do mar,
Octavio Paz propõe metáforas definidoras tanto para o detentor da voz poética –
presumivelmente ele próprio –, quanto para a provável interlocutora, sua amada.
Como se poderá notar, as metáforas empregadas não são tão simples ou
imediatas, instigando o leitor para além da sua margem de conforto, no afã de
imputar-lhes um sentido válido, frente aos discursos alternados, plasmados pelos vínculos com o feminino e o masculino.
No meio de todo esse ciclo de sentenças, uma apenas se repete: “eu sou o
caminho de sangue”, abrindo e fechando a fala do poeta, a denotar conexão com a
ideia de um rio voluntarioso a espicaçar o fluxo da vida.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
Movimiento
Si tú eres la yegua
de ámbar
yo soy el camino de sangre
Si tú eres la primer
nevada
yo soy el que enciende el brasero del alba
Si tú eres la torre
de la noche
yo soy el clavo ardiendo en tu frente
Si tú eres la marea
matutina
yo soy el grito del primer pájaro
Si tú eres la cesta
de naranjas
yo soy el cuchillo de sol
Si tú eres el altar
de piedra
yo soy la mano sacrílega
Si tú eres la tierra
acostada
yo soy la caña verde
Si tú eres el salto
del viento
yo soy el fuego enterrado
Si tú eres la boca
del agua
yo soy la boca del musgo
Si tú eres el bosque
de las nubes
yo soy el hacha que las parte
Si tú eres la ciudad
profanada
yo soy la lluvia de consagración
Si tú eres la montaña
amarilla
yo soy los brazos rojos del liquen
Si tú eres el sol que
se levanta
yo soy el camino de sangre
Dança em Tehuantepec
(Diego Rivera: pintor
mexicano)
Movimento
Se tu és a égua de
âmbar
eu sou o caminho de sangue
Se tu és o primeiro
nevão
eu sou quem acende a fogueira da madrugada
Se tu és a torre da
noite
eu sou o cravo ardendo em tua fronte
Se tu és a maré
matutina
eu sou o grito do primeiro pássaro
Se tu és a cesta de
laranjas
eu sou o punhal de sol
Se tu és o altar de
pedra
eu sou a mão sacrílega
Se tu és a terra
deitada
eu sou a cana verde
Se tu és o salto do
vento
eu sou o fogo oculto
Se tu és a boca da
água
eu sou a boca do musgo
Se tu és o bosque das
nuvens
eu sou o machado que as corta
Se tu és a cidade
profunda
eu sou a chuva da consagração
Se tu és a montanha
amarela
eu sou os braços vermelhos do líquen
Se tu és o sol que se
levanta
eu sou o caminho de sangue
De: “Salamandra” (1958-1961)
Referência:
Em espanhol
PAZ, Octavio. Movimiento. Disponível neste
endereço. Acesso em: 7 jan 2016.
Em português
PAZ, Octavio. Movimento. In: __________. Antologia poética: 1935-1975.
Organização e tradução de Luis Pignatelli. 2. ed. Lisboa, PT: Publicações Dom
Quixote, 1998. p. 70.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário