Num poema do paulista Atalá Marques, o tema do gato reaparece com toda a
sua carga simbólica, a se revelar na presença do animal na sala do poeta. Mas
um gato sem unhas, já não tão felino, portanto.
As imagens em reflexo que o poema evoca centram-se nos referentes mais
frequentemente empregados para qualificar o animal: os olhos estriados, o andar
em patas de veludo, o miado inconfundível.
J.A.R. – H.C.
O Gato
Forte silêncio
de sala vaga,
ri-se deitado
o gato.
Do teto o lustre
troca as estrias
com os seus olhos
de gato.
Compraz-se em ver
num salto busca –
o gato.
No chão se esvai
pena ligeira
convida pernas
do gato.
Num canto esconso
perde-se mínima
e sentinela
desunguladas (*)
esperam patas
de gato.
Se a noite move
cortinas, nelas
em garras áspero
o gato.
No vaso folhas
de pé felinas
abre-se em bocas:
meu gato.
Meu gato – é hino,
um mio solta
dá em responso
o gato.
Pesto: um gato de estúdio
(Elin Pendleton:
artista norte-americana)
Nota:
(*) Desunguladas - patas das quais se
extraíram as unhas.
Referência:
PÔRTO E SANTOS, Atalá Marques. O gato.
In: AYALA, Walmir (Ed.). Poetas novos do
Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Instituto Nacional do Livro, 1969. p. 48-49.
(Coleção ‘Cultura Brasileira’; Literatura/Antologias; nº 1)
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