Às vezes as palavras são verbalizadas por um sentimento evasivo ou de
tédio com a vida. Desencanto com tudo, de modo que a morte seja um ponto de
confluência de todos os desejos da alma.
Estar assim tão mortificado pode ser perigoso. Ainda mais para um poeta por
demais sensível quanto o pernambucano em questão, que passou a vida a sofrer
males não só da alma, quanto – e principalmente – do corpo.
J.A.R. – H.C.
Manuel Bandeira
(1886-1968)
Antologia
A vida
Não vale a pena e a
dor de ser vivida.
Os corpos se entendem
mas as almas não.
A única coisa a fazer
é tocar um tango argentino.
Vou-me embora p’ra
Pasárgada!
Aqui eu não sou
feliz.
Quero esquecer tudo:
– A dor de ser
homem...
Este anseio infinito
e vão
De possuir o que me
possui.
Quero descansar
Humildemente pensando
na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que
podia ter sido e que não foi.
Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e
alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o
aeroporto em frente me dá lições de partir.)
Quando a Indesejada
das gentes chegar
Encontrará lavrado o
campo, a casa limpa.
A mesa posta,
Com cada coisa em seu
lugar.
(Em: “Estrela da Tarde”, Rio, 1965)
Evasão Marítima
(Eric Munsch: artista
francês)
Referência:
BANDEIRA, Manuel. Antologia. In:
__________. Manuel Bandeira de bolso:
uma antologia poética. Organização e apresentação de Mara Jardim. Porto Alegre,
RS: L&PM, 2013. p. 144-145. (L&PM Pocket; v. 675)
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