Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Manuel Bandeira - Antologia

Às vezes as palavras são verbalizadas por um sentimento evasivo ou de tédio com a vida. Desencanto com tudo, de modo que a morte seja um ponto de confluência de todos os desejos da alma.

Estar assim tão mortificado pode ser perigoso. Ainda mais para um poeta por demais sensível quanto o pernambucano em questão, que passou a vida a sofrer males não só da alma, quanto – e principalmente – do corpo.

J.A.R. – H.C.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

Antologia

A vida
Não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos se entendem mas as almas não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me embora p’ra Pasárgada!
Aqui eu não sou feliz.
Quero esquecer tudo:
– A dor de ser homem...
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.

Quero descansar
Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei...
Na vida inteira que podia ter sido e que não foi.

Quero descansar.
Morrer.
Morrer de corpo e alma.
Completamente.
(Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.)

Quando a Indesejada das gentes chegar
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa.
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

(Em: “Estrela da Tarde”, Rio, 1965)

Evasão Marítima
(Eric Munsch: artista francês)

Referência:

BANDEIRA, Manuel. Antologia. In: __________. Manuel Bandeira de bolso: uma antologia poética. Organização e apresentação de Mara Jardim. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 144-145. (L&PM Pocket; v. 675)

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