Eis aqui o grande pensador, meio espanhol meio norte-americano, como que
se identificando com um metafísico em estado terminal, ele que se alinhou à
corrente filosófica do naturalismo metafísico.
Há laivos de desengano nos versos do soneto, de sorte que nos faz
presumir que o poeta-filósofo, ao mesmo tempo que maneja material da vida
concreta para nos fazer ver a beleza que nos cerca, parece sucumbir aos próprios
argumentos que formula, como se vertentes poderosas do vazio e do nada
detivessem forças superiores no plano da realidade sensível.
J.A.R. – H.C.
George Santayana
(1863-1952)
On the Death of
a Metaphysician
Unhappy dreamer, who outwinged in flight
The pleasant region of the things I love,
And soared beyond the sunshine, and above
The golden cornfields and the dear and bright
Warmth of the hearth,− blasphemer of delight,
Was your proud bosom not at peace with Jove,
That you sought, thankless for his guarded grove,
The empty horror of abysmal night?
Ah, the thin air is cold above the moon!
I stood and saw you fall, befooled in death,
As, in your numbed spirit’s fatal swoon,
You cried you were a god, or were to be;
I heard with feeble moan your boastful breath
Bubble from depths of the Icarian sea.
Autorretrato com a Morte
(Arnold Böcklin:
pintor suíço)
Sobre a Morte de um Metafísico
Desditoso sonhador,
que voaste para além
Da agradável região
das coisas que amo,
E planaste mais além
da luz do sol, e acima
De dourados trigais e
do estimado e brilhante
Calor da lareira,–
blasfemo das delícias,
Teu altivo peito não
estava em paz com Júpiter?
Buscaste, sem gratidão
ante os seus pomares vigiados,
O horror vazio da
noite abismal?
Ah, frio está o tênue
ar sobre a lua!
Levantei-me e te vi tombar,
enganado na morte,
Quando, na síncope
fatal de teu espírito entorpecido,
Gritaste que eras
deus ou que haverias de sê-lo;
Eu ouvi teu alento
presunçoso com um gemido débil
Borbulhar desde as
profundezas do mar de Ícaro (*).
Nota:
(*) Segundo a lenda, o mar Egeu, um dos
que banha, a leste, a Grécia.
Referência:
SANTAYANA, George. On the death of a metaphysician. In: BENÉT, William
Rose; AIKEN, Conrad (Eds.). An anthology
of famous english and american poetry. New York, NY: Random House Inc.,
1945. p. 715. (‘The Modern Library’)
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