Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

George Santayana - Sobre a Morte de um Metafísico

Eis aqui o grande pensador, meio espanhol meio norte-americano, como que se identificando com um metafísico em estado terminal, ele que se alinhou à corrente filosófica do naturalismo metafísico.   

Há laivos de desengano nos versos do soneto, de sorte que nos faz presumir que o poeta-filósofo, ao mesmo tempo que maneja material da vida concreta para nos fazer ver a beleza que nos cerca, parece sucumbir aos próprios argumentos que formula, como se vertentes poderosas do vazio e do nada detivessem forças superiores no plano da realidade sensível.

J.A.R. – H.C.

George Santayana
(1863-1952)

On the Death of a Metaphysician

Unhappy dreamer, who outwinged in flight
The pleasant region of the things I love,
And soared beyond the sunshine, and above
The golden cornfields and the dear and bright
Warmth of the hearth,− blasphemer of delight,
Was your proud bosom not at peace with Jove,
That you sought, thankless for his guarded grove,
The empty horror of abysmal night?
Ah, the thin air is cold above the moon!
I stood and saw you fall, befooled in death,
As, in your numbed spirit’s fatal swoon,    
You cried you were a god, or were to be;
I heard with feeble moan your boastful breath
Bubble from depths of the Icarian sea.

Autorretrato com a Morte
(Arnold Böcklin: pintor suíço)

Sobre a Morte de um Metafísico

Desditoso sonhador, que voaste para além
Da agradável região das coisas que amo,
E planaste mais além da luz do sol, e acima
De dourados trigais e do estimado e brilhante
Calor da lareira,– blasfemo das delícias,
Teu altivo peito não estava em paz com Júpiter?
Buscaste, sem gratidão ante os seus pomares vigiados,
O horror vazio da noite abismal?
Ah, frio está o tênue ar sobre a lua!
Levantei-me e te vi tombar, enganado na morte,
Quando, na síncope fatal de teu espírito entorpecido,
Gritaste que eras deus ou que haverias de sê-lo;
Eu ouvi teu alento presunçoso com um gemido débil
Borbulhar desde as profundezas do mar de Ícaro (*).

Nota:

(*) Segundo a lenda, o mar Egeu, um dos que banha, a leste, a Grécia.

Referência:

SANTAYANA, George. On the death of a metaphysician. In: BENÉT, William Rose; AIKEN, Conrad (Eds.). An anthology of famous english and american poetry. New York, NY: Random House Inc., 1945. p. 715. (‘The Modern Library’)

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