Num enredo de traição, Edwin Rolfe constrói o poema abaixo num misto de
comiseração e de perdão: por trás de toda a mágoa com os seus pretensos amigos
ou camaradas, está a capacidade de a tudo superar pela escala da fraternidade e
do amor universais.
Afinal, como se costuma dizer, só o amor constroi. Nunca a dissimulação
ou a falsidade. A camaradagem, em consequência, há de revestir-se de um ideal
subjacente para fazer frente aos compromissos quer próprios quer da causa
coletiva.
J.A.R. – H.C.
Edwin Rolfe
(1909-1954)
Definition
Knowing this man, who calls himself comrade,
mean, underhanded, lacking all attributes
real men desire, that replenish all words
men strive for; knowing that charlatan, fool too,
masquerading always in our colors, must also
be addressed as comrade − knowing these
and others to be false, deficient in knowledge
and love for fellow men that motivates our kind,
nevertheless I answer the salutation proudly,
equally sure that no one can defile it,
feeling deeper than the word the love it bears,
the world it builds. And no man, lying,
talking behind back, betraying trustful friend,
is worth enough to soil this word or mar this
world.
(1934)
A Traição de Cristo
(Giovanni Francesco
Barbieri: pintor italiano)
Definição
Sabendo que este
homem, que chama a si mesmo camarada,
vil, fingido, a quem
falta todos os atributos que os
homens de verdade
desejam, que repõe todas as palavras
pelas quais os homens
se empenham; admitindo que aquele
charlatão, parvo também,
disfarçado sempre com
as nossas cores, deve
ser tratado como
camarada – e reconhecendo estes
e outros por serem
falsos, deficientes no conhecimento
e no amor pelos
semelhantes que motiva nossa espécie,
apesar de tudo eu
respondo a saudação com orgulho,
igualmente seguro de
que ninguém poderá desonrá-la,
sentindo mais fundo
do que a palavra amor transporta,
constrói-se o mundo.
E nenhum homem, mentindo,
falando pelas costas,
traindo um amigo de confiança,
é suficientemente
digno para macular tal palavra ou
corromper este mundo.
Referência:
ROLFE, Edwin. Definition. In: Rodman, Selden (Ed.). A new anthology of modern poetry. New York (NY): Random House Inc.,
1938. p. 390. (The Modern Library)
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