Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 9 de janeiro de 2016

Eugenio Montale - Síria

“Diziam os antigos que a poesia nos eleva a Deus”: assim começa o poema que o italiano Montale intitulou com o nome de um país que vem se tornando o centro das atenções – e das preocupações – mundiais, qual seja, a Síria. O poema, contudo, revela mesmo é alguma conexão com a bíblica história da conversão de Paulo, narrada no livro dos Atos dos Apóstolos.

O poeta, então mudo, recobrou a voz em meio a um cenário pastoril, quando em pane o motor de seu carro, incidente com certo significado erótico, porquanto uma “seta de sangue” sugere mescla de paixão mística e paixão amorosa, apontando o caminho para uma revelação de origem dominantemente terrestre.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Siria

Dicevano gli antichi che la poesia
è scala a Dio. Forse non è così
se mi leggi. Ma il giorno io lo seppi
che ritrovai per te la voce, sciolto
in un gregge di nuvoli e di capre
dirompenti da un greppo a brucar bave
di pruno e di falasco, e i volti scarni
della luna e del sole si fondevano,
il motore era guasto ed una freccia
di sangue su un macigno segnalava
la via di Aleppo.

Aleppo (Síria)

Síria

Diziam os antigos que a poesia
nos eleva a Deus. Talvez não seja assim
quando me leias. Mas eu o soube o dia em que
graças a ti recobrei a voz, perdido
em meio a um rebanho de nuvens e de cabras
que irrompiam de um barranco a desfolhar
sarças e juncos, e as faces descarnadas
do sol e da lua se fundiam,
estava em pane o motor e uma seta
de sangue sobre uma pedra indicava
a direção de Alepo.

Referência:

MONTALE, Eugenio. Siria / Síria. In: __________. Poesias. Edição bilíngue. Seleção, tradução e notas de Geraldo Holanda Cavalcanti. Prefácio de Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1997. Em italiano: p. 74; em português: p. 75.

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