Luís Delfino, poeta catarinense conterrâneo de Cruz e Sousa, tece loas,
neste seu soneto, a um mal que é todo o mal de que a humanidade padece: o mal
de amor. Mal que prende o céu à terra, o mar ao vento, como bem o afirma.
O amor é bem essa força maior, que, como já dizia Camões, congrega poderes
paradoxais: dor que não dói e fogo que arde sem se ver! Daí porque o amor é tão
contrário a si mesmo, chegando mesmo a aglutinar energias antitéticas...
J.A.R. – H.C.
Luís Delfino
(1834-1910)
O Mal
Eu nunca imploro aos
deuses superiores:
No meu orgulho sei
que rirão de piedade;
Eles conhecem bem a
pobre humanidade,
E a jaula onde está
preso o cão de nossas dores.
Ninguém sai de si
mesmo, e sai dos seus horrores;
Somos isto: não há
mudar na eternidade:
Há para nós em tudo
uma cumplicidade;
Levas contigo o mal
sem fim, para onde fores.
O mal, obra que acusa
um grande pensamento,
O mal, que prende o
céu à terra, o mar ao vento,
O mal, do qual um
deus foi exímio escultor;
Que é deus mesmo, – e
será? eu dentro em mim pergunto, –
Que encosta o dia à
noite, e o pranto ao rir põe junto,
O mal único, o mal,
que é todo o mal, – é o amor.
O Primeiro Luto
(William-Adolphe
Bouguereau: pintor francês)
Referência:
DELFINO, Luís. O mal. In: __________. Os melhores poemas de Luís Delfino.
Seleção de Lauro Junkes. São Paulo, SP: Global, 1991. p. 71. (‘Os Melhores
Poemas’; nº 23)
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