Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Luís Delfino - O Mal

Luís Delfino, poeta catarinense conterrâneo de Cruz e Sousa, tece loas, neste seu soneto, a um mal que é todo o mal de que a humanidade padece: o mal de amor. Mal que prende o céu à terra, o mar ao vento, como bem o afirma.

O amor é bem essa força maior, que, como já dizia Camões, congrega poderes paradoxais: dor que não dói e fogo que arde sem se ver! Daí porque o amor é tão contrário a si mesmo, chegando mesmo a aglutinar energias antitéticas...

J.A.R. – H.C.

Luís Delfino
(1834-1910)

O Mal

Eu nunca imploro aos deuses superiores:
No meu orgulho sei que rirão de piedade;
Eles conhecem bem a pobre humanidade,
E a jaula onde está preso o cão de nossas dores.

Ninguém sai de si mesmo, e sai dos seus horrores;
Somos isto: não há mudar na eternidade:
Há para nós em tudo uma cumplicidade;
Levas contigo o mal sem fim, para onde fores.

O mal, obra que acusa um grande pensamento,
O mal, que prende o céu à terra, o mar ao vento,
O mal, do qual um deus foi exímio escultor;

Que é deus mesmo, – e será? eu dentro em mim pergunto, –
Que encosta o dia à noite, e o pranto ao rir põe junto,
O mal único, o mal, que é todo o mal, – é o amor.

O Primeiro Luto
(William-Adolphe Bouguereau: pintor francês)

Referência:

DELFINO, Luís. O mal. In: __________. Os melhores poemas de Luís Delfino. Seleção de Lauro Junkes. São Paulo, SP: Global, 1991. p. 71. (‘Os Melhores Poemas’; nº 23)

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