Hoje, véspera de Ano Novo, é o momento para exorcizar tudo o que não deu
certo em 2015. Que 2016 tenha o poder de nos fazer mais conscientes no consumo
das riquezas da Terra, mais humanos em nossas interações, mais otimistas com o
presente e o futuro.
É nesse espírito de virada, que postamos um poema meio “gótico”, do
búlgaro Liubomir Levtchev, no qual faz ele menção a um brinde com vinho, a ser sorvido num crânio humano, em conexão direta com o poema “Uma taça feita de um crânio
humano”, de Lord Byron.
J.A.R. – H.C.
Liubomir Levtchev
(n. 1935)
Brinde de Ano Novo
Dum crânio, achado no jardim
de um mosteiro medieval, Byron
fez uma taça.
Lord Byron,
encha a taça.
Do crânio do pobre
frade
vou beber sedento,
até a saciedade...
A vida vencedora
pode sentir medo
perante alguma coisa?
Neste mundo não tenho
medo de nada!
Perdi
os companheiros mais
chegados.
Desamei
mulheres queridas.
Fechei as pálpebras
do papai...
Mas até nos meus dias
mais terríveis
nunca fechei
as pálpebras da minha
fé!
Oh, que o vinho
generoso transvase
chama imortal no meu
coração!
Humano é viver!
E desumano é
morrer!
Mas se os meus dias
estiverem contados,
se tenho de morrer
como todo mundo,
que seja em combate,
não na cama!
Então até a morte
parecerá
verdadeira vida.
Lord Byron,
encha a taça:
sou sua visita de Ano
Novo.
Quero falar-lhe às doze
–
brindar
por meu crânio.
Porque um dia
vão achá-lo também...
Mas que seja ruim
para taça:
não quero é que achem
sem buracos de balas
ou de faca!
Um Bar no Folies-Bergère
(Édouard Manet:
pintor francês)
Referência:
LEVTCHEV, Liubomir. Brinde de ano novo. Tradução de Rumen Stoyanov. In: __________. Observatório:
poesias. Tradução do búlgaro por Rumen Stoyanov. São Paulo, SP: Montanha
Editora (Albert Haimoff), 1975. p. 21-22.
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