John Donne sintetiza nos quatorze versos do soneto toda a história da natividade
de Jesus, desde o nascimento propriamente dito e a adoração dos Magos, até a
partida para o Egito em razão do édito de Herodes.
Donne sobra em habilidade no trato com a língua inglesa, a ponto de ser
capaz de alterar, em rápidas linhas, a pessoa ao longo do poema: de um terceiro
narrador, assume ele próprio o fio condutor, quando então expressa imperativos
de fé, talvez num anseio de torná-la ainda mais forte.
J.A.R. – H.C.
John Donne
(1572-1631)
Nativitie
Immensity
cloystered in thy deare wombe,
Now leaves his welbelov’d imprisonment,
There he hath made himselfe to his intent
Weake enough, now into our world to come;
But Oh, for thee, for him, hath th’Inne no roome?
Yet lay him in this stall, and from the Orient,
Starres, and wisemen will travell to prevent
Th’effect of Herods jealous generall doome.
Seest thou, my Soule, with thy faiths eyes, how he
Which fils all place, yet none holds him, doth lye?
Was not his pity towards thee wondrous high,
That would have need to be pittied by thee?
Kisse him, and with him into Egypt goe,
With his kinde
mother, who partakes thy woe.
A Adoração dos Pastores
(Domenico Zampieri:
pintor italiano)
Natal
A imensidade toda no ventre abençoado,
Agora deixa o ventre,
bem amada clausura
Onde, por seu querer,
se fez uma criatura
Fragílima, e eis no
mundo nosso Deus encarnado.
Mas, oh! Para ti, e
ele, não há no albergue um pouso?
Na manjedoura estava,
e vindo do Oriente,
Estrela e Magos põem
a família ao corrente
Do decreto de
Herodes, general invejoso.
Minha alma, que teus
olhos de fé por ele passes:
Ele enche o espaço
todo, e não tem um abrigo?
Não era alta piedade
dele para contigo
Que lhe fosse preciso
que dele te apiedasses?
Beija-o, e com ele
foge para o Egito, vai, parte
Com sua doce mãe, que a imensa dor
reparte.
Referência:
DONNE, John. Nativitie / Natal. In: __________. Sonetos de meditação. Edição bilíngue. Tradução
de Afonso Félix de Sousa. Rio de Janeiro, RJ: Philobiblion, 1985. Em inglês: p.
22; em português: p. 23. (Coleção Poesia, Sempre n. 6).
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