Imagine, internauta, um dos maiores – se não for o maior! – nomes da
literatura brasileira assaltado pela falta de inspiração, para compor um poema
que transportasse ao verso as “sensações da sua idade antiga”, à época do
Natal...
Mesmo que isso fosse verdade, veja como Machado de Assis – não
exatamente um poeta irreparável, senão um escritor brilhante –, dá contornos ao
seu íntimo problema, neste soneto natalino cheio de graça!
J.A.R. – H.C.
Machado de Assis
(1839-1908)
Soneto de Natal
Um homem, – era
aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do
Nazareno, –
Ao relembrar os dias
de pequeno,
E a viva dança, e a
lépida cantiga,
Quis transportar ao
verso doce e ameno
As sensações da sua
idade antiga,
Naquela mesma velha
noite amiga,
Noite cristã, berço
do Nazareno.
Escolheu o soneto...
A folha branca
Pede-lhe a
inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao
gesto seu.
E, em vão lutando
contra o metro adverso,
Só lhe saiu este
pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou
mudei eu?”
Adoração dos Pastores
(Caravaggio: pintor
italiano)
Referência:
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria.
Mudaria o Natal ou mudei eu? In: __________. Obra Completa. vol. III (Ocidentais). Rio de Janeiro, RJ: Nova
Aguilar, 1994. p. 205.
Acabou o Natal pode postar sobre Ano Novo?
ResponderExcluirObrigada!