Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 26 de dezembro de 2015

Machado de Assis - Soneto de Natal

Imagine, internauta, um dos maiores – se não for o maior! – nomes da literatura brasileira assaltado pela falta de inspiração, para compor um poema que transportasse ao verso as “sensações da sua idade antiga”, à época do Natal...

Mesmo que isso fosse verdade, veja como Machado de Assis – não exatamente um poeta irreparável, senão um escritor brilhante –, dá contornos ao seu íntimo problema, neste soneto natalino cheio de graça!

J.A.R. – H.C.

Machado de Assis
(1839-1908)

Soneto de Natal

Um homem, – era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, –
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Adoração dos Pastores
(Caravaggio: pintor italiano)

Referência:

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Mudaria o Natal ou mudei eu? In: __________. Obra Completa. vol. III (Ocidentais). Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1994. p. 205.

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