Um poema que mescla as emoções do nascimento e da paixão de Cristo,
sendo que o homem-deus que nascia “era já homem feito”, a caminhar pelas ruas
de São Paulo, cidade grande e fria, não só pela média de temperatura, senão, e
sobretudo, pela indiferença inoculada no sangue de seus transeuntes.
E a metáfora que Ivo emprega, na boca do metrô, retrata bem ambas as
imagens que se têm da maior cidade do país: um “nevoeiro” de pessoas, num entra
e sai ininterrupto das estações; e um céu que de uma hora para outra pode
desabar em gélidas intempéries.
J.A.R. – H.C.
Lêdo Ivo
(1924-2012)
Cristo em São Paulo
Na noite de Natal
quando os sinos
tocavam
vi Cristo caminhando
numa rua de São
Paulo.
Na hora em que nascia
era já homem feito
trazendo do seu berço
a solidão e a morte.
– Como a vida era
breve
para os homens e
deuses,
um suspiro de Cristo
exalado na treva!
E carregando a Cruz
Jesus ia sozinho
caminho do Calvário.
ninguém o
acompanhava.
Luminoso rumor
de uma noite de
festa.
Jesus estremecia.
Como a noite era
fria!
E a boca do metrô
dentro do nevoeiro
engoliu os seus
passos.
Referência:
IVO, Lêdo. Cristo em São Paulo. In:
__________. Os melhores poemas de Lêdo
Ivo. Seleção de Sérgio Alves Peixoto. 2. ed. São Paulo, SP: Global, 1990.
p. 95. (Série “Os Melhores Poemas”, n. 2)
Nenhum comentário:
Postar um comentário