Natal é sinônimo de sentir a vida como um pulso começando do zero. Uma
experiência mais voltada a abrir o coração do que deslacrar a caixa de
presentes. É tempo de tradição, mas também de doação e de perdão. E não importa
que idade tenhamos, ele sempre desperta boas recordações e cria novas.
É nesse tom positivo que a poetisa carioca Stella Leonardos vivencia os
seus Natais, mesmo que sinta certo desencanto no instante presente, pela
ausência de luz em meio aos arranha-céus citadinos, a lhe trazer a impressão de
afastamento de suas mais diletas paragens.
J.A.R. – H.C.
Stella Leonardos
(n. 1923)
Surdina
Este Natal retomo a
ti, meu sempre
motivo de viver e
curtir vida
– tu que à distância
tornas o presente
um passado de passos
revividos.
Pudesse te dizer que
esta vivência
tão eco de Natais
inesquecíveis
verdeja no mais verde
dos pinheiros
alumbrado de sonhos
redivivos.
Estou erma demais.
Daqueles verdes
as luzes desertaram,
vida minha.
Se me debruço sobre a
rua queda
sem nenhum galo ou
timbre de sol vivo
os vultos dos
arranha-céus silentes
avultam como arcanjos
desvividos.
Dezembro no Rio Wye
(Nigel Fletcher:
pintor inglês)
Referência:
LEONARDOS, Stella. Surdina. In: CAMPOS,
Milton de Godoy (Ed.). Antologia poética
da geração de 45. 1ª série. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1966. p. 204.
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