Naquele mesmo cenário da Natividade – imortalizado pelas figuras
acolhidas por Francisco de Assis em seu presépio, ainda na primeira metade do
século XIII –, a poetisa chilena Gabriela Mistral imagina outras tantas ações que
não entraram para o formal enredo bíblico.
Entre elas, tem-se a recepção honrosa que deram ao Menino muitos animais
e aves que por lá pairavam. Afinal, a história real teria transcorrido, como informam os
evangelistas, numa estrebaria. E nela, portanto, todos os bichos são
bem-vindos. Trata-se, portanto, de uma ficção com aparência de factibilidade...
J.A.R. – H.C.
Gabriela Mistral
(1889-1957)
Romance del Establo de Belén
Al llegar la
medianoche
y romper en llanto el
Niño,
las cien bestias
despertaron
y el establo se hizo
vivo...
y se fueron acercando
y alargaron hasta el
Niño
sus cien cuellos,
anhelantes
como un bosque
sacudido.
Bajó un buey su
aliento al rostro
y se lo exhaló sin
ruido,
y sus ojos fueron
tiernos,
como llenos de
rocío...
Una oveja lo frotaba
contra su vellón
suavísimo,
y las manos le
lamían,
en cuclillas, dos
cabritos...
Las paredes del
establo
se cubrieron sin
sentirlo
de faisanes y de ocas
y de gallos y de
mirlos.
Los faisanes
descendieron
y pasaban sobre el
niño
su ancha cola de
colores;
y las ocas de anchos
picos
arreglábanle las
pajas;
y el enjambre de los
mirlos
era un vuelo
palpitante
sobre del recién
nacido...
Y la Virgen entre el
bosque
de los cuernos, sin
sentido,
agitada iba y venía
sin poder tomar al
Niño.
Y José sonriendo iba
acercándose en su
auxilio...
¡Y era como un bosque
todo
el establo conmovido!
O Estábulo
Ao chegar a
meia-noite
rompendo em pranto o
Menino,
cem animais
despertaram
e o estábulo se fez
vivo.
Acercaram-se
estendendo
para o lado do
Menino,
cem pescoços
anelantes
como um bosque
sacudido.
Um boi exalou-lhe ao
rosto
seu bafejo – mas sem
ruído.
E tinha olhos ternos
a humildade do rocio.
Uma ovelha o
acariciava
contra sua lã
suavíssima.
E as mãozinhas lhe
lambiam
de cócoras, dois
cabritos.
Pelas paredes do
estábulo
docemente
espaireciam,
bandos de melros e
galos,
de faisões e de
palmípedes.
Os faisões com
reverência
passavam sobre o
Menino
a grande cauda de
cores;
as aves de largos
bicos.
Vinham ajeitar-lhe as
palhas;
e dos melros o
remoinho
era um palpitante véu
por sobre o
recém-nascido.
E a Virgem entre
chavelhos
e respiros
brancacentos,
ia e vinha tonta, sem
poder tomar o Menino.
E José chegava rindo
para ocultar a
mofina.
E era como bosque ao
vento
o estábulo comovido.
Referências:
Em Espanhol
MISTRAL, Gabriela. Romance del establo
de Belén. In: __________. Gabriela
Mistral para niños. Edición preparada por Aurora Díaz Plaja. Ilustraciones
de Arantxa Martínez. 1. ed. Madrid, ES: Ediciones de la Torre, 1994. p. 62-63.
(Colección Alba y Mayo; Serie Poesía; n. 35)
Em Português
MISTRAL, Gabriela. O Estábulo. In:
__________. Poesias escolhidas.
Tradução de Henriqueta Lisboa. Rio de Janeiro: Opera Mundi, 1971. p. 93-94.
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