Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 5 de dezembro de 2015

Murilo Mendes - O Profeta

Temos aqui um poema do mineiro Murilo Mendes que não trata, especificamente, do tema do Natal. Mas fiquemos com o que, nele, haja de mais parelho: faz-se referência à profecia do nascimento de uma criança, humana e divina, que integrará num só o tempo futuro e o passado, resgatando a unidade de todas as coisas.

A passagem bíblica da criação do mundo – a demarcar o sentido mítico do aparecimento do homem sobre a terra –, reaparece com o desterro da serpente na lua e a equivalência da derradeira mulher com Eva. E assim, como celebra a palavra, tudo se reverterá ao seu princípio.

J.A.R. – H.C.

Murilo Mendes
(1901-1975)

O Profeta

A Dante Milano

A Virgem deverá gerar o Filho
Que é seu Pai desde toda a eternidade.
A sombra de Deus se alastrará pelas eras futuras.
O homem caminhará guiado por uma estrela de fogo.
Haverá música para o pobre e açoites para o rico.
Os poetas celebrarão suas relações com o Eterno.
Muitos mecânicos sentirão nostalgia do Egito.
A serpente de asas será desterrada na lua.
A última mulher será igual a Eva.
E o Julgador, arrastando na sua marcha as constelações,
Reverterá todas as coisas ao seu princípio.

De: “Tempo e Eternidade” - POA - 1935
  

Referência:

MENDES, Murilo. O profeta. In: KOPKE, Carlos Burlamarqui. Antologia da poesia brasileira moderna: 1922-1947. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1953. p. 152.

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