Temos aqui um poema do mineiro Murilo Mendes que não trata,
especificamente, do tema do Natal. Mas fiquemos com o que, nele, haja de mais parelho:
faz-se referência à profecia do nascimento de uma criança, humana e divina, que
integrará num só o tempo futuro e o passado, resgatando a unidade de todas as
coisas.
A passagem bíblica da criação do mundo – a demarcar o sentido mítico do
aparecimento do homem sobre a terra –, reaparece com o desterro da serpente na
lua e a equivalência da derradeira mulher com Eva. E assim, como celebra a
palavra, tudo se reverterá ao seu princípio.
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
O Profeta
A Dante Milano
A Virgem deverá gerar
o Filho
Que é seu Pai desde
toda a eternidade.
A sombra de Deus se
alastrará pelas eras futuras.
O homem caminhará
guiado por uma estrela de fogo.
Haverá música para o
pobre e açoites para o rico.
Os poetas celebrarão
suas relações com o Eterno.
Muitos mecânicos
sentirão nostalgia do Egito.
A serpente de asas
será desterrada na lua.
A última mulher será
igual a Eva.
E o Julgador, arrastando
na sua marcha as constelações,
Reverterá todas as
coisas ao seu princípio.
De: “Tempo e Eternidade” - POA - 1935
Referência:
MENDES, Murilo. O profeta. In: KOPKE,
Carlos Burlamarqui. Antologia da poesia
brasileira moderna: 1922-1947. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1953. p.
152.
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