Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Billy Collins - Pardal de Natal

Eis aqui um poema natalino, bem ao natural da época hibernal – quer dizer, pelo menos na banda setentrional da Terra. Um raro e sortudo pardal que aportou na casa do poeta, salvo por pouco das garras de seu gato.

A ave, imagina o autor, deve ter pousado na árvore de Natal, entre os elementos de decoração, antes de ser resgatada e levada ao ambiente externo, onde se pôs sobre um “arbusto de azevinho, com a neve caindo através da escuridão, sem uma aragem”.

J.A.R. – H.C.

Billy Collins
(n. 1941)

Christmas Sparrow

The first thing I heard this morning
was a rapid flapping sound, soft, insistent

wings against glass as it turned out
downstairs when I saw the small bird
rioting in the frame of a high window,
trying to hurl itself through
the enigma of glass into the spacious light.

Then a noise in the throat of the cat
who was hunkered on the rug
told me how the bird had gotten inside,
carried in the cold night
through the flap of a basement door,
and later released from the soft grip of teeth.

On a chair, I trapped its pulsations
in a shirt and got it to the door,
so weightless it seemed
to have vanished into the nest of cloth.

But outside, when I uncupped my hands,
it burst into its element,
dipping over the dormant garden
in a spasm of wingbeats
then disappeared over a row of tall hemlocks.

For the rest of the day,
I could feel its wild thrumming
against my palms as I wondered about
the hours it must have spent
pent in the shadows of that room,
hidden in the spiky branches
of our decorated tree, breathing there
among the metallic angels, ceramic apples, stars of yarn,
its eyes open, like mine as I lie in bed tonight
picturing this rare, lucky sparrow
tucked into a holly bush now,
a light snow tumbling through the windless dark. 


Pardal de Natal

A primeira coisa que ouvi esta manhã
foi um rápido bater de asas, suave, insistente –

asas contra vidro, como se percebeu depois,
lá em baixo, quando vi um pequeno pássaro
agitando-se na moldura de uma janela alta,
tentando lançar-se através do
enigma de vidro até à ampla luz.

E então um ruído na garganta do gato
que estava pregado ao tapete
contou-me como o pássaro ficara lá dentro,
transportado na noite fria
através da portinhola na porta da cave,
e posteriormente solto do aperto suave dos dentes.

De pé numa cadeira, prendi as suas pulsações
numa camisa e levei-o para a porta,
tão leve que parecia
ter desaparecido no ninho de tecido.

Mas cá fora, quando abri as mãos,
ele saiu disparado para o seu elemento,
mergulhando sobre o jardim adormecido
num espasmo de bater de asas
e desaparecendo sobre um renque alto de acácias.

Durante o resto do dia,
senti o seu vibrar selvagem
contra a palma das mãos, sempre que pensava
nas horas que a ave deve ter passado
presa nas sombras da sala,
escondida nos ramos pontiagudos
da nossa árvore decorada, onde respirou
entre anjos metálicos,  maçãs de loiça, estrelas de verga,
os seus olhos abertos, como os meus, deitado aqui esta noite,
imaginando este pardal sortudo e raro
aconchegado agora num arbusto de azevinho,
com a neve caindo através da escuridão, sem uma aragem.

Referências:

Em Inglês

COLLINS, Billy. Christmas sparrow. In: __________. Nine horses. London, UK: Picador, 2003. P. 115-116.

Em Português

COLLINS, Billy. Pardal de Natal. Tradução de Ricardo Marques. Disponível neste endereço. Acesso em: 25 nov. 2015.

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