Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Alphonsus de Guimaraens Filho - Nascituro

Embora não saiba exatamente se se trata de um poema de Natal, a postagem de hoje diz respeito a um nascituro – uma criança ainda a nascer –, que bem pode ser o rebento do próprio poeta Afonso de Guimaraens Filho.

A propósito, como se poderia inferir, Alphonsus é filho do afamado poeta mineiro Alphonsus de Guimaraens, um dos poetas luminares da escola literária simbolista.

J.A.R. – H.C.

Alphonsus de Guimaraens Filho
(1918-2008)

Nascituro

Que direi eu ao nascituro?
Dar-lhe-ei um pouco do escuro
sentimento que vem da vida?
Ou direi antes da impressentida

estrela que existe no fundo
do mais amargo sofrimento?
Dar-lhe-ei um pouco do sentimento
escuro, de que é feito o mundo?

Ou direi antes da aflitiva
certeza – humílima certeza –
de que a maior, divina beleza,
não consola esta coisa viva,

esta pobre, inquieta argila,
que é o homem, com o seu destino?
Ou direi antes ao pequenino
que dorme na antecâmara tranquila

palavras de uma primavera
que os deuses reservam para o que vem?
Que direi eu ao que está sem
pecado ou culpa, ao que não era

senão na minha esperança, e agora
claro e preciso se anuncia?
Dar-lhe-ei um pouco do meu dia
ou viverei de sua aurora?

Em: “O Mito e o Criador”

Bebê no Útero
(Dan Lacey: pintor norte-americano)

Referência:

GUIMARAENS FILHO, Alphonsus. Nascituro. In: CAMPOS, Milton de Godoy (Ed.). Antologia poética da geração de 45. 1ª série. São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1966. p. 63-64.

Um comentário:

  1. Excelente captura, caro Rodrigues. Pessoalmente, entendo este como um dos mais inquietantemente belos poemas florescidos em língua portuguesa, com um primor formal que valoriza a mensagem, ao invés de simplesmente confiná-la na camisa-de-força do metro e da rima. Abraço do j. a. [Luz]

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