Numa realidade que, para Stevens, é a pedra angular da literatura, se
alguém desistir da crença em Deus, resta-lhe a poesia como alternativa,
enquanto conforto diário para trazer o mundo de volta aos seus trilhos.
Mesmo o momento de despedida da vida pode ser um flagrante de exultação,
quando envolto em cânticos como os da noite de Natal: o passamento assoma com
alegria, levando o(a) moribundo(a) a flutuar com serenidade numa barcaça
florida.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The Mechanical
Optimist
A lady dying of diabetes
Listened to the radio,
Catching the lesser dithyrambs.
So heaven collects its bleating lambs.
Her useless bracelets fondly fluttered,
Paddling the melodic swirls,
The idea of god no longer sputtered
At the roots of her indifferent curls.
The idea of the Alps grew large,
Not yet, however, a thing to die in.
It seemed serener just to die,
To float off in the floweriest barge,
Accompanied by the exegesis
Of familiar things in a cheerful voice,
Like the night before Christmas and all the carols.
Dying lady, rejoice, rejoice!
Manhã Gloriosa na Casa de Campo
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
O Otimista Mecânico
Uma dama morrendo de
diabetes
Escutava o rádio,
Capturando os menores
ditirambos.
Assim o céu reagrupa
as suas ovelhas a balir.
Suas frívolas
pulseiras agitaram-se ternamente,
Rebolindo melódicas
espirais,
A ideia de deus já
não escalava
As raízes de seus
indiferentes cachos.
A ideia dos Alpes expandiu-se
bastante,
Sem chegar, no
entanto, a ser algo por que morrer.
Simplesmente morrer
parecia bem mais sereno,
Flutuar na mais
florida barcaça.
Acompanhada pela
exegese
De coisas familiares
numa exultante voz,
Como na noite de Natal
com todos os seus cânticos.
Moribunda senhora,
alegrai-vos, alegrai-vos!
Referência:
STEVENS, Wallace. The mechanical optimist. In: __________. The collected poems. The man with the
blue guitar: a thought revolved. 11. ed.
New York, NY: Alfred A. Knopf. Inc., feb. 1971. p. 184.
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