Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Verônica de Aragão - Tratado do Tempo

Logo que pus os olhos no poema “Tratado do Tempo”, da poetisa carioca Verônica de Aragão, mais abaixo transcrito, de repente, não mais que de repente, recordei-me do livro “Pedro Páramo”, de Juan Rulfo.

É certo que a correlação entre as duas criações não se evidencia de modo assim tão manifesto. Afinal, “Pedro Páramo” retrata a passagem do tempo à luz de uma escrita ao modo fantástico, com aquele rol de personagens finadas a revolver as suas experiências em vida, aninhadas em surpreendentes guinadas, a demandar do leitor extrema atenção nas inflexões e mudanças de voz.

Mas a atmosfera do sonho, das paisagens idílicas, dos pendores mágicos que emanam da escrita de Verônica, assim como os vislumbro, são retas secantes que cruzam a curva do cultuadíssimo enredo concebido por Rulfo. Daí a associação...

J.A.R. – H.C.

Verônica de Aragão nasceu em Rio de Janeiro, em 1965. Professora de língua e literatura portuguesa. Licenciada em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Rio de Janeiro. A sua tese doutoral recolhe como ideia fulcral o pós-modernismo e centra-se na obra de Silviano Santiago. Tem publicado artigos em edições acadêmicas (GARCÍA, 2001, p. 499).

Tratado do Tempo

Eu vos proclamo
com toda a certeza de quem nada sabe:
só existe o presente.

O resto
são miragens que vislumbro
da minha janela, quando amanhece.

O passado é um rio incessante e pleno
interior, mágico ou sombrio,
(que física reconstrói emoções, fragmentos na memória?)
O futuro é uma janela por onde aporta a esperança
e por onde adentra o teu amor, tão certo, tão bom, tão infinito.
Mas amor, não há nada além do agora.

E é desconcertante entender que no agora não nos encontramos.

Deixemos para depois esta possibilidade,
este sonho de que um dia as almas se conheçam.

American Gothic
(Grant Wood: pintor norte-americano)

Referência:

ARAGÃO, Verônica. Tratado do tempo. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 504.

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