Seguimos em nosso fluxo de poesias jeitosas. Como poema para o dia de
hoje escolhemos “Tempo Imperfeito”, do paulista Mário Chamie, a gracejar sobre
as diversas formas verbais, ou melhor, tempos verbais, e suas distintas vozes.
Nada mais sutil do que assinalar o ‘locus’ onde cada uma age: a passiva,
por dentro; a ativa, por fora. E a reflexiva? Por dentro e por fora? Mais um
pouco: Chamie não desconhece que as ações externalizadas pelo sujeito nada mais
são que outras tantas razões que, internalizadas, movem-no em seu psiquismo. Sujeito
ativo e sujeito passivo são, assim, dois lados da mesma moeda, em qualquer
modalidade de tempo em que se esteja. Perfeito ou imperfeito!
J.A.R. – H.C.
Mário Chamie
(1933-2011)
Tempo Imperfeito
A voz passiva
age por dentro.
A voz ativa
por fora age
ao sopro do vento.
O sujeito que ativa
a voz de dentro
cobra por fora
a voz passiva
que sopra o vento.
Nenhum sujeito
divisa por fora
o objeto perfeito
de um verbo neutro
que o tempo acorda.
Passivo e ativo
todo sujeito
por dentro cobra
o preço e a hora
que – imperfeito –
o tempo explora.
Os néscios governam o mundo novo
(Gyuri Lohmüller:
pintor romeno)
Referência:
CHAMIE, Mário. Tempo imperfeito. In:
CONGÍLIO, Mariazinha (Selecção e Coordenação). Antologia de poetas brasileiros. 1. ed. Lisboa, PT: Universitária
Editora, 2000. p. 141.
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