Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de agosto de 2015

Mário Chamie - Tempo Imperfeito

Seguimos em nosso fluxo de poesias jeitosas. Como poema para o dia de hoje escolhemos “Tempo Imperfeito”, do paulista Mário Chamie, a gracejar sobre as diversas formas verbais, ou melhor, tempos verbais, e suas distintas vozes.

Nada mais sutil do que assinalar o ‘locus’ onde cada uma age: a passiva, por dentro; a ativa, por fora. E a reflexiva? Por dentro e por fora? Mais um pouco: Chamie não desconhece que as ações externalizadas pelo sujeito nada mais são que outras tantas razões que, internalizadas, movem-no em seu psiquismo. Sujeito ativo e sujeito passivo são, assim, dois lados da mesma moeda, em qualquer modalidade de tempo em que se esteja. Perfeito ou imperfeito!

J.A.R. – H.C.

Mário Chamie
(1933-2011)

Tempo Imperfeito

A voz passiva
age por dentro.
A voz ativa
por fora age
ao sopro do vento.

O sujeito que ativa
a voz de dentro
cobra por fora
a voz passiva
que sopra o vento.

Nenhum sujeito
divisa por fora
o objeto perfeito
de um verbo neutro
que o tempo acorda.

Passivo e ativo
todo sujeito
por dentro cobra
o preço e a hora
que – imperfeito –
o tempo explora.

Os néscios governam o mundo novo
(Gyuri Lohmüller: pintor romeno)

Referência:

CHAMIE, Mário. Tempo imperfeito. In: CONGÍLIO, Mariazinha (Selecção e Coordenação). Antologia de poetas brasileiros. 1. ed. Lisboa, PT: Universitária Editora, 2000. p. 141.

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