Neste interessante poema, do norte-americano Carl Sandburg, pode-se
perceber a caracterização que se faz das línguas ou idiomas como mananciais expostos
à ação do tempo, dizemos melhor, aos usos que deles fazemos e às variações que
a eles impomos, sob a forma de neologismos ou gírias.
Sandburg lança mão da imagem de um rio, para qualificar uma língua a
fluir em novos leitos a cada mil anos, a depender do rumo que, drasticamente,
impingimos em nosso quotidiano linguajar.
O autor faz ainda menção aos sinais da extinta escrita dos hieróglifos, enfatizando
desse modo que todo bom idioma, de um modo ou de outro, sempre encontra o seu
fim, dando oportunidade a que novas línguas possam emergir da inescapável
interação humana.
J.A.R. – H.C.
Carl Sandburg
(1878-1967)
Languages
There are no handles upon a language
Whereby men take hold of it
And mark it with signs for its remembrance.
It is a river, this language,
Once in a thousand years
Breaking a new course
Changing its way to the ocean.
It is mountain effluvia
Moving to valleys
And from nation to nation
Crossing borders and mixing.
Languages die like rivers.
Words wrapped round your tongue today
And broken to shape of thought
Between your teeth and lips speaking
Now and today
Shall be faded hieroglyphics
Ten thousand years from now.
Sing − and singing − remember
Your song dies and changes
And is not here to-morrow
Any more than the
wind
Blowing ten thousand years ago.
Torre de Babel
(Marten van
Valckenborch: pintor flamengo)
Línguas
Não há arreios em uma
língua
Por onde os homens
possam segurá-la
E marcá-la com sinais
para sua recordação.
É um rio, essa
língua,
A cada mil anos
Abrindo um novo rumo
Mudando seu caminho
para o oceano.
São eflúvios de uma
montanha
Descendo para os
vales
E de nação em nação
Cruzando fronteiras e
se misturando.
As línguas morrem
como os rios.
As palavras que hoje
envolvem sua boca
E são partidas em
forma de pensamento
Entre seus dentes e
lábios que falam
Agora e hoje
Serão hieróglifos
desbotados
Daqui a dez mil anos.
Cante – e cantando –
lembre-se
Sua canção morre e se
transforma
E não estará mais
aqui amanhã
Não mais que o vento
Soprando há dez mil
anos atrás.
(Tradução de Bruno
Piffardini)
Referência:
SANDBURG, Carl. Languages. In: NOSTRAND, Albert D. Van; WATTS II,
Charles H. (Eds.). The conscious voice:
an anthology of american poetry from
seventeenth century to the present. New York, NY: The Liberal Arts Press, 1959.
p. 205.
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