Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Carl Sandburg - Línguas

Neste interessante poema, do norte-americano Carl Sandburg, pode-se perceber a caracterização que se faz das línguas ou idiomas como mananciais expostos à ação do tempo, dizemos melhor, aos usos que deles fazemos e às variações que a eles impomos, sob a forma de neologismos ou gírias.

Sandburg lança mão da imagem de um rio, para qualificar uma língua a fluir em novos leitos a cada mil anos, a depender do rumo que, drasticamente, impingimos em nosso quotidiano linguajar.

O autor faz ainda menção aos sinais da extinta escrita dos hieróglifos, enfatizando desse modo que todo bom idioma, de um modo ou de outro, sempre encontra o seu fim, dando oportunidade a que novas línguas possam emergir da inescapável interação humana.

J.A.R. – H.C.

Carl Sandburg
(1878-1967)

Languages

There are no handles upon a language
Whereby men take hold of it
And mark it with signs for its remembrance.
It is a river, this language,
Once in a thousand years
Breaking a new course
Changing its way to the ocean.
It is mountain effluvia
Moving to valleys
And from nation to nation
Crossing borders and mixing.
Languages die like rivers.
Words wrapped round your tongue today
And broken to shape of thought
Between your teeth and lips speaking
Now and today
Shall be faded hieroglyphics
Ten thousand years from now.
Sing − and singing − remember
Your song dies and changes
And is not here to-morrow
Any more than the wind
Blowing ten thousand years ago.

Torre de Babel
(Marten van Valckenborch: pintor flamengo)

Línguas

Não há arreios em uma língua
Por onde os homens possam segurá-la
E marcá-la com sinais para sua recordação.
É um rio, essa língua,
A cada mil anos
Abrindo um novo rumo
Mudando seu caminho para o oceano.
São eflúvios de uma montanha
Descendo para os vales
E de nação em nação
Cruzando fronteiras e se misturando.
As línguas morrem como os rios.
As palavras que hoje envolvem sua boca
E são partidas em forma de pensamento
Entre seus dentes e lábios que falam
Agora e hoje
Serão hieróglifos desbotados
Daqui a dez mil anos.
Cante – e cantando – lembre-se
Sua canção morre e se transforma
E não estará mais aqui amanhã
Não mais que o vento
Soprando há dez mil anos atrás.

(Tradução de Bruno Piffardini)

Referência:

SANDBURG, Carl. Languages. In: NOSTRAND, Albert D. Van; WATTS II, Charles H. (Eds.). The conscious voice: an anthology of american poetry from seventeenth century to the present. New York, NY: The Liberal Arts Press, 1959. p. 205.

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