Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Hart Crane - Viagens (III)

Eis aqui a terceira seção do longo poema “Viagens”, em seis partes, do poeta norte-americano Hart Crane. Nela, pode-se perceber o liame com o tema erótico que permeia todo o poema, expressão de um amor sexualmente ambivalente.

No fundo, trata-se de uma tentativa de Crane exprimir a sua apaixonada afeição pelo marinheiro Emil Opffer, afeição essa que, a julgar pelas expressões metafóricas empregadas, se concretizou em meio a energias positivas e negativas, muito em consonância com o ir e vir das águas do mar.

J.A.R. – H.C.

Hart Crane
(1899-1932)

Voyages (III)

Infinite consanguinity it bears
This tendered theme of you that light
Retrieves from sea plains where the sky
Resigns a breast that every wave enthrones;
While ribboned water lanes I wind
Are laved and scattered with no stroke
Wide from your side, whereto this hour
The sea lifts, also, reliquary hands.

And so, admitted through black swollen gates
That must arrest all distance otherwise,
Past whirling pillars and lithe pediments,
Light wrestling there incessantly with light,
Star kissing star through wave on wave unto
Your body rocking!
and where death, if shed,
Presumes no carnage, but this single change, −
Upon the steep floor flung from dawn to dawn
The silken skilled transmemberment of song;

Permit me voyage, love, into your hands…

Albert Lynch Embarcando numa Viagem
(Albert Lynch: pintor peruano)

Viagens (III)

Há uma infinita consanguinidade
No tema que me estendes e que a luz
Traz dos campos marinhos onde o céu
Renega um seio à onda que o entoa,
Enquanto eu sulco as rotas de estilhaços
Lavados e esparzidos sem um golpe
Ao largo do teu flanco, aonde nesta hora
O mar ergue, também, mãos relicárias.

Admitido a portões negros, inflados,
Que soem sofrear toda a distância,
Sob pilares em ronda e tetos tontos,
A luz em luta eterna contra a luz,
Estrela amando estrela de onda a onda até
A dança do teu corpo!
    lá onde a morte
Não é carnificina mas só mutação, –
No fundo fim a flux de aurora a aurora,
Dúctil, sutil transmembramento da canção;

Consente, amor, que eu viaje em tuas mãos agora...

Referências:

Em Inglês:

CRANE, Hart. Voyages (III). In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Coords.). Americans’ favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 59-60.

Em Português:

CRANE, Hart. Viagens (III). In: CAMPOS, Augusto de (Seleção e tradução). Edição Bilíngue. Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. p. 302. (Signos; 42)

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