Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

António Quadros - Poética Contraditória

Voltemos à mais clássica das formas poéticas clássicas – o soneto –, para ornar este espaço com a beleza de um poema a falar da própria arte poética, embora não em suas formalidades, senão como modo de expressão do próprio poeta.

António Quadros, o seu autor, aconselha que o poeta não seja um mero escritor, a reproduzir palavras no papel como se um autômato fosse, mas um profeta, um iluminado, capaz de agregar mundos novos ao próprio mundo.

J.A.R. – H.C.

António Quadros
(1923-1993)

Poética Contraditória

Não digas o que sabes nos teus versos,
Deixa para trás a ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti não for ausência
São ideais perdidos, ou submersos.

Abandona-te às vozes que não ouves,
E liberta os teus deuses nos teus dedos;
Não busques os sorrisos, mas os medos,
E o que não for ignoto e só, não louves.

Ser misterioso e triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica dos teus prantos.

Percorre o teu caminho até ao fundo,
E com os versos que achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um escritor, mas um profeta.

(Em: “Viagem Desconhecida”)

A Escola do Silêncio
(Jean Delville: pintor belga)

Referência:

QUADROS, António. Poética contraditória. In: HATHERLY, Ana (Seleção e Organização). Caminhos da moderna poesia portuguesa. 2. ed. [Lisboa, PT]: Ministério da Educação Nacional, Direção Geral de Ensino Primário, Editora Gráfica Portuguesa Ltda., 1969. p. 54. (Coleção Educativa - Série G - nº 8)

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