Voltemos à mais clássica das formas poéticas clássicas – o soneto –,
para ornar este espaço com a beleza de um poema a falar da própria arte
poética, embora não em suas formalidades, senão como modo de expressão do
próprio poeta.
António Quadros, o seu autor, aconselha que o poeta não seja um mero
escritor, a reproduzir palavras no papel como se um autômato fosse, mas um
profeta, um iluminado, capaz de agregar mundos novos ao próprio mundo.
J.A.R. – H.C.
António Quadros
(1923-1993)
Poética Contraditória
Não digas o que sabes
nos teus versos,
Deixa para trás a
ciência e a consciência;
Tudo aquilo que em ti
não for ausência
São ideais perdidos,
ou submersos.
Abandona-te às vozes
que não ouves,
E liberta os teus
deuses nos teus dedos;
Não busques os
sorrisos, mas os medos,
E o que não for
ignoto e só, não louves.
Ser misterioso e
triste, é ser poeta:
Mesmo a luz que
palpita nos teus cantos.
É uma imagem heroica
dos teus prantos.
Percorre o teu
caminho até ao fundo,
E com os versos que
achaste, aumenta o mundo.
Não sejas um
escritor, mas um profeta.
(Em: “Viagem Desconhecida”)
A Escola do Silêncio
(Jean Delville: pintor
belga)
Referência:
QUADROS, António. Poética contraditória.
In: HATHERLY, Ana (Seleção e Organização). Caminhos
da moderna poesia portuguesa. 2. ed. [Lisboa, PT]: Ministério da Educação
Nacional, Direção Geral de Ensino Primário, Editora Gráfica Portuguesa Ltda.,
1969. p. 54. (Coleção Educativa - Série G - nº 8)
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