Numa parelha cara aos estudiosos da Física, o binômio “espaço x tempo”,
o pensador brasileiro Miguel Reale – autor de clássicos da literatura zetética,
como “Lições Preliminares de Direito” e “Teoria Tridimensional do Direito” – exercita
a sua poética, claro está, forjada em nítidos lineamentos filosóficos.
Vê-se então um mesclado de ontologia, cosmologia, atomística e
gravitação universal, tudo bem arregimentado num diálogo hipotético imaginado
pelo jusfilósofo, que teria reverberado pelos quatro cantos do universo!
J.A.R. – H.C.
Miguel Reale
(1910-2006)
O Espaço e o Tempo
Espaço e tempo se
desavieram
num dos grotões do
cosmos.
“Estou cansado de
viver jungindo ao tempo,
proclama arrogante o
espaço,
como irmãos gêmeos
siameses,
o momento confundido
com o traço.
Com absoluta
independência
quero imergir-me nas
micropartículas do átomo
ou sublimar-me no
infinito campo de forças
estelares!”
E sereno o tempo
respondeu:
“Como te enganas!
Há muito tempo, enquanto
te encurvavas
para ajustar-te às
coisas grandes ou pequenas,
eu fugia delas
buscando a duração
intrínseca do ser
ou me arriscando em
sonhos transcendentes!”
E o eco repetiu o
diálogo
no espaço e no tempo.
Tempo no Espaço
(Alayna Borowy:
artista norte-americana)
Referência:
REALE, Miguel. O espaço e o tempo. In: CONGÍLIO,
Mariazinha (Selecção e Coordenação). Antologia
de poetas brasileiros. 1. ed. Lisboa, PT: Universitária Editora, 2000. p.
152.
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