Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Hart Crane - No Túmulo de Melville

Num poema bastante representativo sobre o tema que predomina na obra do autor de “Moby Dick” (1851), o poeta norte-americano Hart Crane, em quatro rápidas quadras, sumaria a vida dos que se lançam ao mar em busca de sustento.

O tom elegíaco do poema de Hart lança luzes sobre o que se mostra recorrente em qualquer livro que tenha o singrar de águas profundas como assunto: o tradicional arsenal de recursos que nem sempre asseguram uma viagem tranquila, os riscos de naufrágio, a perda inapelável de cargas e embarcações, a morte sempre à espreita.

Para quem se lança ao alto mar, o retorno a terra passa a ser sempre uma mera hipótese que pode ou não se concretizar. Essa é a lição que também se extrai de várias obras do baiano Jorge Amado. Outro baiano, Dorival Caymmi, afirma que “é doce morrer no mar”! Será mesmo?

J.A.R. – H.C.

Hart Crane
(EUA: 1899-1932)

At Melville’s Tomb

Often beneath the wave, wide from this ledge
The dice of drowned men’s bones he saw bequeath
An embassy. Their numbers as he watched,
Beat on the dusty shore and were obscured.

And wrecks passed without sound of bells,
The calyx of death’s bounty giving back
A scattered chapter, livid hieroglyph,
The portent wound in corridors of shells.

Then in the circuit calm of one vast coil,
Its lashings charmed and malice reconciled,
Frosted eyes there were that lifted altars;
And silent answers crept across the stars.

Compass, quadrant and sextant contrive
No farther tides... High in the azure steeps
Monody shall not wake the mariner.
This fabulous shadow only the sea keeps.

Herman Melville
(EUA: 1819-1891)

No Túmulo de Melville

Amiúde sob a onda, em franca mirada desde este arrecife,
Ele vira os dados de ossos dos afogados transmitirem
Uma mensagem. Seus números, quando os distinguia,
Topavam no litoral poeirento, tornando-se obscurecidos.

E despojos de naufrágios passaram sem ecoar de sinos,
O cálice do que é generoso na morte a restituir
Um capítulo disperso, lívido hieróglifo,
A ferida sinistra em corredores de conchas.

Então no circuito calmo de uma vasta espiral,
Encantados os açoites e reconciliada a malícia,
Havia olhos gelados que altares ergueram;
E silentes respostas deslizavam por entre as estrelas.

Bússola, quadrante e sextante já não prospectam
Quaisquer marés distantes... Alto nas azuis escarpas,
O canto não despertará o marinheiro.
Esta fabulosa sombra somente o mar a preserva.

Referência:

CRANE, Hart. At Melville’s tomb. In: __________. The collected poems of Hart Crane. Edited with an Introduction by Waldo Frank. New York, NY: Liveright Publish Corporation, 1933. p. 100.

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