Num poema bastante representativo sobre o tema que predomina na obra do autor
de “Moby Dick” (1851), o poeta norte-americano Hart Crane, em quatro rápidas
quadras, sumaria a vida dos que se lançam ao mar em busca de sustento.
O tom elegíaco do poema de Hart lança luzes sobre o que se mostra
recorrente em qualquer livro que tenha o singrar de águas profundas como assunto:
o tradicional arsenal de recursos que nem sempre asseguram uma viagem tranquila,
os riscos de naufrágio, a perda inapelável de cargas e embarcações, a morte
sempre à espreita.
Para quem se lança ao alto mar, o retorno a terra passa a ser sempre uma
mera hipótese que pode ou não se concretizar. Essa é a lição que também se
extrai de várias obras do baiano Jorge Amado. Outro baiano, Dorival Caymmi,
afirma que “é doce morrer no mar”! Será mesmo?
J.A.R. – H.C.
Hart Crane
(EUA: 1899-1932)
At Melville’s Tomb
Often beneath the wave, wide from this ledge
The dice of drowned men’s bones he saw bequeath
An embassy. Their numbers as he watched,
Beat on the dusty shore and were obscured.
And wrecks passed without sound of bells,
The calyx of death’s bounty giving back
A scattered chapter, livid hieroglyph,
The portent wound in corridors of shells.
Then in the circuit calm of one vast coil,
Its lashings charmed and malice reconciled,
Frosted eyes there were that lifted altars;
And silent answers crept across the stars.
Compass, quadrant and sextant contrive
No farther tides... High in the azure steeps
Monody shall not wake the mariner.
This fabulous shadow only the sea keeps.
Herman Melville
(EUA: 1819-1891)
No Túmulo de
Melville
Amiúde sob a onda, em
franca mirada desde este arrecife,
Ele vira os dados de ossos
dos afogados transmitirem
Uma mensagem. Seus
números, quando os distinguia,
Topavam no litoral
poeirento, tornando-se obscurecidos.
E despojos de naufrágios
passaram sem ecoar de sinos,
O cálice do que é generoso na morte a restituir
Um capítulo disperso,
lívido hieróglifo,
A ferida sinistra em
corredores de conchas.
Então no circuito
calmo de uma vasta espiral,
Encantados os açoites
e reconciliada a malícia,
Havia olhos gelados que
altares ergueram;
E silentes respostas deslizavam
por entre as estrelas.
Bússola, quadrante e
sextante já não prospectam
Quaisquer marés
distantes... Alto nas azuis escarpas,
O canto não despertará
o marinheiro.
Esta fabulosa sombra
somente o mar a preserva.
Referência:
CRANE, Hart. At Melville’s tomb. In: __________. The collected poems of
Hart Crane. Edited with an Introduction by Waldo Frank. New York, NY: Liveright
Publish Corporation, 1933. p. 100.
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