Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ralph Waldo Emerson - Brahma

Hoje soprou-me incomum alento que, imagino, deve ter sido alguma invocação de São Jerônimo (rs) – o padroeiro dos tradutores –, para que vertesse ao português o poema “Brahma”, a um só tempo esplêndido e polêmico, do norte-americano Ralph Emerson.

Trata-se de uma daquelas inspirações que têm por ponto de partida a milenar filosofia religiosa indiana. Mas por não conhecer a fundo tal literatura, não saberia dimensionar o quanto do poema constitui paráfrases de livros como o épico “Mahabharata”, e quanto são ideias próprias do autor do poema.

Seja como for, vê-se que é Brahma, o espírito criador e unificador do universo que o enuncia. Coisas e situações antinômicas são reconciliadas na lógica paradoxal do bramanismo. Eis que o “matador vermelho”, ou o deus hindu Krishna, e sua vítima são fundidos na unidade de Brahma, a alma eterna e infinita de tudo quanto existe. Bem se vê: uma ordem cósmica muito além da percepção limitada dos simples mortais...

J.A.R. – H.C.

Ralph Waldo Emerson
(1803-1882)

Brahma

If the red slayer think he slays,
Or if the slain think he is slain,
They know not well the subtle ways.
I keep, and pass, and turn again.

Far or forgot to me is near;
Shadow and sunlight are the same;
The vanished gods to me appear;
And one to me are shame and fame.

They reckon ill who leave me out;
When me they fly, I am the wings;
I am the doubter and the doubt,
I am the hymn the Brahmin sings.

The strong gods pine for my abode,
And pine in vain the sacred Seven;(*)
But thou, meek lover of the good!
Find me, and turn thy back on heaven.

(Nov. 1857)

Representação de Brahma

Brahma

Se o matador vermelho cogita que vitima
Ou se o finado pensa que está morto,
É porque desconhecem as sutis aparências.
Eu perduro, e passo, e torno a voltar.

Do distante ou do olvidado sou próximo;
A sombra e a luz do sol se equivalem;
Os deuses desvanecidos revelam-se-me;
E não faço distinção entre fama e desonra.

Equivocam-se aqueles que me excluem;
Quando de mim distanciam-se, eu sou as asas;
Eu sou o que duvida e sua dúvida,
Sou o hino que o brâmane entoa.

Os poderosos deuses aspiram por meu lar,
E anelam em vão pelos Sete sagrados;
Porém tu, dócil amante do bem!
Vem até mim e volve ao céu teu dorso.

Nota:

(*) É possível que este verso faça referência aos sete sacerdotes, muito sábios, com quem os brâmanes haveriam de entrar em contato para rastrear suas origens: Atri, Bharadvaja, Gautama, Jamadagni, Kashyapa, Vasishtha e Vishvamitra.

Referência:

EMERSON, Ralph Waldo. Brahma. In: __________. The complete works of Ralph Waldo Emerson. V. IX. Poems. Boston and New York: Houghton, Mifflin & Co., 1904. p. 195.

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