Joel Silveira, escritor e jornalista sergipano, superpõe, em seu
autointitulado “Poema”, ideias da famosa composição “São Demais os Perigos
desta Vida”, de Vinicius e Toquinho.
É a influência da literatura sobre a própria literatura. É o recriar-se
até o infinito, porque “viver não é necessário, necessário é criar”, como bem o
diz o superpoeta lusitano Fernando Pessoa.
J.A.R. – H.C.
Joel Silveira
(1918-2007)
Poema
Porque não há trégua
na quotidiana amargura,
os versos nascem
todos desgraçados
e possivelmente maus.
Os caminhos estão
gastos,
as mulheres se
repetem
e é ridículo dar amor
a alguém que amanhã estará murcho
e que jamais
devolverá nossas cartas.
Para as horas, tão
inúteis,
vale apenas a solução
dos bêbedos.
Onde estão os perigos
desta vida?
Quero-os todos para
mim, aqui ou longe,
a eles o melhor
estilo e o melhor entusiasmo.
E que sobre eles o
amor e a alegria se debrucem
como rosas abertas
num campo minado.
(Julho 1945)
São Demais os Perigos desta Vida
(Vinicius de Moraes e
Toquinho)
Referência:
PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do
Século. Ilustrações de Tide Hellmeister. 2. ed. São Paulo, SP: Geração
Editorial, 2004. p. 92-93.
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