Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Robert Frost - À Noite Acostumado

Robert Frost descreve no poema que ora postamos o estado mental de um solitário, a vagar pela noite sem interações humanas palpáveis: nem o vigia nem o grito que escuta desempenham quaisquer papéis emocionais que lhe despertem algum sentido de conexão social.

Nesse cenário sombrio e não acolhedor, o narrador transita pelas ruas da cidade e observa um “luminar relógio contra os céus”, excerto do poema que gera dubiedade em sua interpretação, pois há quem o entenda como uma metáfora da lua, assim como há outros que o preferem com um sentido mais denotativo, como se o poeta se referisse a um relógio propriamente dito, por exemplo, no alto de uma elevada torre de igreja.

Invoque-se Hermes para vir decifrar este mistério encerrado nas palavras (rs)! De nossa parte, preferimos a incerteza capaz de gerar perplexidade, uma das singularidades de um texto que se pretende, de fato, poético.

J.A.R. – H.C.

Robert Frost
(1874-1963)

Acquainted with the Night

I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain − and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.

I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.

I have stood still and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,

But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
One luminary clock against the sky

Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.

Homem na chuva à noite
(Ignace Kennis: pintor belga)

À Noite Acostumado

Já fui à noite inteiramente acostumado.
Eu já saí na chuva – e regressei na chuva.
Já segui tendo as luzes da cidade ao largo.

Eu já contemplei a mais triste dentre as ruas.
Já deixei para trás as rondas do vigia
E baixei o olhar, sem declaração alguma.

Parei, calei o som que ao caminhar fazia
Quando na distância de repente irrompeu
Um grito surdo que por sobre as casas vinha,

Mas não a me chamar ou me dizer adeus;
Ainda mais imóvel e mal-assombrado,
Dizia um luminar relógio contra os céus

Que o tempo nem estava certo nem errado.
Já fui à noite inteiramente acostumado.

(Tradução de Rodrigo Madeira)

Referência:

FROST, Robert. Acquainted with the night. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 93.

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