Robert Frost descreve no poema que ora postamos o estado mental de um
solitário, a vagar pela noite sem interações humanas palpáveis: nem o vigia nem
o grito que escuta desempenham quaisquer papéis emocionais que lhe despertem
algum sentido de conexão social.
Nesse cenário sombrio e não acolhedor, o narrador transita pelas ruas da
cidade e observa um “luminar relógio contra os céus”, excerto do poema que gera
dubiedade em sua interpretação, pois há quem o entenda como uma metáfora da
lua, assim como há outros que o preferem com um sentido mais denotativo, como
se o poeta se referisse a um relógio propriamente dito, por exemplo, no alto de
uma elevada torre de igreja.
Invoque-se Hermes para vir decifrar este mistério encerrado nas palavras
(rs)! De nossa parte, preferimos a incerteza capaz de gerar perplexidade, uma das
singularidades de um texto que se pretende, de fato, poético.
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
Acquainted with
the Night
I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain − and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.
I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.
I have stood still and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,
But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
One luminary clock against the sky
Proclaimed the time was neither wrong nor right.
I have been one acquainted with the night.
Homem na chuva à noite
(Ignace Kennis: pintor
belga)
À Noite Acostumado
Já fui à noite
inteiramente acostumado.
Eu já saí na chuva –
e regressei na chuva.
Já segui tendo as
luzes da cidade ao largo.
Eu já contemplei a
mais triste dentre as ruas.
Já deixei para trás
as rondas do vigia
E baixei o olhar, sem
declaração alguma.
Parei, calei o som
que ao caminhar fazia
Quando na distância
de repente irrompeu
Um grito surdo que
por sobre as casas vinha,
Mas não a me chamar
ou me dizer adeus;
Ainda mais imóvel e
mal-assombrado,
Dizia um luminar
relógio contra os céus
Que o tempo nem
estava certo nem errado.
Já fui à noite
inteiramente acostumado.
(Tradução de Rodrigo
Madeira)
Referência:
FROST, Robert. Acquainted with the night. In: PINSKY, Robert; DIETZ,
Maggie (Eds.). American’s favorite
poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton,
2000. p. 93.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário