O crítico e filósofo norte-americano Henry David Thoreau, famoso pelo
seu livro “Walden”, uma reflexão sobre a vida simples junto à natureza, também
foi autor de inúmeros poemas, como o que ilustra esta postagem.
Aliás, tal poema, “Smoke” (“Fumo”), consta exatamente na seção “Aquecimento
e Inauguração”, de “Walden”, a configurar poética meditação sobre os trabalhos
a que o autor se voltava, quando de sua experiência em viver acampado numa
mata:
“O lenhador, quando acampa na mata, usa
madeira de nogueira verde cortada em varetas finas. De vez em quando eu pegava
um pouco. Quando os moradores da cidade estavam acendendo seus fogos além do
horizonte, eu também avisava aos vários habitantes selvagens do vale de Walden,
com uma serpentina de fumaça se evolando de minha chaminé que eu estava
desperto.
Uma madeira de lei
verde, recém-cortada, embora eu usasse em pequena quantidade, era a que melhor
atendia à minha finalidade. Às vezes eu deixava um bom fogo aceso quando saía
para uma caminhada numa tarde de inverno; ao voltar, três ou quatro horas
depois, o fogo ainda estava vivo e brilhante. Minha casa não ficava vazia,
mesmo eu estando fora. Era como se eu tivesse deixado ali uma alegre
governanta. Éramos eu e o Fogo a morar ali; e geralmente minha governanta se
mostrava digna de confiança” (THOREAU, 2015, p. 240-241).
J.A.R. – H.C.
Henry David Thoreau
(1817-1862)
Smoke
Light-winged Smoke, Icarian bird,
Melting thy pinions in thy upward flight,
Lark without song, and the messenger of dawn,
Circling above the hamlets as thy nest;
Or else, departing dream, and shadowy form
Of midnight vision, gathering up thy skirts;
By night star-veiling, and by day
Darkening the light and blotting out the sun;
Go thou my incense upward from this hearth,
And ask the gods to pardon this clear flame.
Noite das Fogueiras
Frederick C. Johnston:
pintor inglês
Fumo
Leve fumo alado,
pássaro de Ícaro
Derretendo tuas rêmiges
no voo às alturas,
Cotovia sem melodia,
mensageira da aurora,
Rodeando o alto das
aldeias como teu ninho;
Ou além, deixando o
sonho e a sombra
Da aparição noturna,
recolhendo tuas saias;
À noite velando as
estrelas, de dia
Toldando a luz e
apagando o sol;
Vai, meu incenso,
sobe desta lareira e
Pede aos deuses
perdão pela viva chama.
Referências:
Em inglês:
THOREAU, Henry David. Smoke. In: __________. Henry David Thoreau: 41 poems. Classic Poetry Series. Publisher:
PoemHunter.com. The World's Poetry Archive, 2012. Disponível neste
endereço. Acesso em: 11 nov 2014. p. 28.
Em português:
THOREAU, Henry David. Fumo. In: __________. Walden. Tradução de Denise Bottmann. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015. p.
241. (Coleção L&PM Pocket; v. 884).
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