O jornalista, crítico e poeta carioca Roberto Marinho de Azevedo tem a
sua poesia aqui representada pelo poema “Nada leves, nem queiras ter”, cuja
temática muito lembra o objeto desta
postagem, em que tecemos comentários à obra “Ter ou Ser”, do psicanalista
alemão Erich Fromm.
A rigor, julgamos que na sociedade contemporânea prevalece o ânimo de “ter”,
em detrimento de “ser”. Não sem motivo, os teóricos a denominam a “sociedade da
afluência”, na qual a superprodução de bens de consumo é a regra, com limitada
preocupação com o desperdício. Pobre terra, a sofrer com as ações devastadoras
do homem sobre a natureza. Até quando?!
J.A.R. – H.C.
Roberto Marinho de Azevedo
(1940-2003)
Nada leves, nem queiras ter
Nada leves, nem
queiras ter
Mais do que as
pombas, as minhocas
Ou o cachorro do
vizinho.
Pensa só na
insanidade
Que é ter:
Primeiro, pesa nos
sentidos
E freia a imaginação;
Depois, o medo de
perder.
Mais que tudo, a
bobagem
Profunda de achar que
tens:
Que vínculo é esse,
absurdo,
Entre um ser vivo e
um
Objeto inanimado?
Tens, por acaso, a
tarde, o vento?
Este trecho de terra?
Por quê?
Quando falas, ele
responde?
Por que terás mais
esse anel
Do que o ar, ou o Pão
de Açúcar?
Medita um pouco no
absurdo
Dessa fantasia que é
ter,
Depois pensa que
sequer tens
A ti, já que não te
dominas.
Começa então a viver
A imensidão desta
vida.
Avareza
(Jacob de Baker:
pintor flamengo)
Referência:
AZEVEDO, Roberto Marinho. Nada leves,
nem queiras ter. In: GULLAR,
Ferreira Gullar et al. Boa companhia −
poesia. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2003. p. 137.
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