Neste antológico poema, a famosa poetisa norte-americana Elizabeth
Bishop tece considerações sobre a perda de coisas tangíveis, materiais, que, a
seu ver, não são nenhum desastre.
Mas será que se estendêssemos essa perda à companhia de entes queridos,
permaneceria a autora com o mesmo ponto de vista? Afinal, se se tem saúde, pode-se
construir um novo mundo, caso “a alma não seja pequena”. Mas não há resgate
para a vida dos entes que já partiram. Ou será que isso também não representa
nenhum desastre?!
J.A.R. – H.C.
Elizabeth Bishop
(1911-1979)
One Art
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.
Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.
I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.
−Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
In “Geography
III” (1976)
Valentina de Milão chora a morte do marido
(Fleury-François
Richard: pintor francês)
Uma Arte
A arte de perder não
é nenhum mistério;
tantas coisas contêm
em si o acidente
de perdê-las, que
perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a
cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a
hora gasta bestamente.
A arte de perder não
é nenhum mistério.
Depois perca mais
rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a
escala subsequente
da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio da
mamãe. Ah! e nem quero
lembrar a perda de
três casas excelentes.
A arte de perder não
é nenhum mistério.
Perdi duas cidades
lindas. E um império
que era meu, dois
rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você
(a voz, o ar etéreo
que eu amo) não muda
nada. Pois é evidente
que a arte de perder
não chega a ser mistério
por muito que pareça
(Escreve!) muito sério.
Referência:
BISHOP, Elizabeth. One art / Uma arte. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop. Edição bilíngue. Seleção,
tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. 1. ed. 2. reimp. São
Paulo, SP: Companhia das Letras, 2012. Em inglês: p. 362; em português: p. 363.
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