Trata-se de um regresso ao tema da
unidade de todas as coisas, desta feita em delicado poema do poeta carioca Raul
Leoni. É como se revivêssemos a ideia oriental do yin e yang, a representarem a
dualidade de tudo quanto existe no universo.
Notemos que o poeta percebe harmonia
mesmo nas manifestações antitéticas do bem e do mal, além de não descartar
nenhum ser vivente, ao abrir mão de corriqueiros critérios utilitários. Pois somos
todos um!
J.A.R. – H.C.
Raul de Leoni
(1895-1926)
Unidade
Deitando os olhos
sobre a perspectiva
das coisas,
surpreendo em cada qual
uma simples imagem fugitiva
da infinita harmonia universal.
Uma revelação vaga e parcial
de tudo existe em
cada coisa viva:
na corrente do bem ou
na do mal
tudo tem uma vida
evocativa.
Nada é inútil; dos
homens aos insetos
vão-se estendendo
todos os aspetos
que a ideia da
existência pode ter;
e o que deslumbra o
olhar é perceber
em todos esses seres
incompletos
a completa noção de
um mesmo ser...
Harmonia Universal 2
(Hans Doller: pintor
alemão)
Referência:
LEONI, Raul de. Unidade. In: FARACO,
Sérgio (Org.). Livro dos poemas: uma
antologia de poetas brasileiros e portugueses. Porto Alegre, RS: L&PM,
2013. p. 117.
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