Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 24 de março de 2015

Gonçalves de Magalhães - A Beleza

O diplomata, ensaísta e poeta carioca Gonçalves de Magalhães – considerado por muitos como o autor da obra inaugural do Romantismo no Brasil, ou melhor, “Suspiros Poéticos e Saudades” – também cantou loas à experiência do belo.

Somente não foi bela a polêmica que o autor travou com José de Alencar sobre a visão que se deveria ter do indígena na literatura ou mesmo sobre o ponto de vista social. Mas isso não vem ao caso aqui: o que importa, neste ‘locus’, é a manifestação do que seja formoso, encantador, gracioso, magnânimo ou que mais possamos arregimentar de sinonímias.

J.A.R. – H.C.

Gonçalves de Magalhães
(1811-1882)

A Beleza

Oh Beleza! Oh potência invencível,
Que na terra despótica imperas;
Se vibras teus olhos
Quais duas esferas,
Quem resiste a teu fogo terrível?

Oh Beleza! Oh celeste harmonia,
Doce aroma, que as almas fascina;
Se exalas suave
Tua voz divina,
Tudo, tudo a teus pés se extasia.

A velhice, do mundo cansada,
A teu mando resiste somente;
Porém que te importa
A voz impotente,
Que se perde, sem ser escutada?

Diga embora que o teu juramento
Não merece a menor confiança;
Que a tua firmeza
Está só na mudança;
Que os teus votos são folhas ao vento.

Tudo sei; mas se tu te mostrares
Ante mim como um astro radiante,
De tudo esquecido,
Nesse mesmo instante,
Farei tudo o que tu me ordenares.

Se até hoje remisso não arde
Em teu fogo amoroso meu peito,
De estoica dureza
Não é isto efeito;
Teu vassalo serei cedo ou tarde.

Infeliz tenho sido até agora,
Que a meus olhos te mostras severa;
Nem gozo a ventura,
Que goza uma fera;
Entretanto ninguém mais te adora.

Eu te adoro como o anjo celeste,
Que da vida os tormentos acalma;
Oh vida da vida,
Oh alma desta alma,
Um teu riso sequer me não deste!

Minha lira que triste ressoa,
Minha lira por ti desprezada,
Assim mesmo triste,
Assim malfadada,
Teu poder, teus encantos pregoa.

Oh Beleza, meus dias bafeja,
Em teu fogo minha alma devora;
Verás de que modo
Meu peito te adora,
E que incenso ofertar-te deseja.

Referência:

MAGALHÃES, Gonçalves de. A beleza. In: MESQUITA, Ari de (Seleção, prefácio e notas). O Livro de ouro da poesia universal: 30 séculos de poesia do século IX a.c. até o século XX. Antologia. Rio de Janeiro: Tecnoprint/Ediouro, 1988. p. 387.

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