Um método meio iconoclasta a ser empregado na escrita, na redação de
poesias, também está claro. Paz, o renomado Nobel (1990), emprega metáforas que
nos fazem lembrar das sessões de imolação de animais, aves mais precisamente. Como
se as estivesse sacrificando para oferecê-las a Apolo, que, entre outros
atributos, favorecia as criações poéticas.
No meio do poema, o autor mexicano qualifica as palavras como “putas”,
denotando o perfil mundano, dissoluto dos vocábulos, que servem para quaisquer
intentos. Para construir e delinear o bem ou para demolir e propalar o mal.
No entanto, no fundamento do poema está o exaustivo labor do poeta, o ‘modus
operandi’ de que lançam mão para produzir fórmulas capazes de dar conta de
métricas, ritmos e figuras – e mais do que isso! –, capturar a essência mesma
da poesia.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
Las Palabras
Dales la vuelta,
cógelas del rabo
(chillen, putas),
azótalas,
dales azúcar en la
boca a las rejegas,
ínflalas, globos,
pínchalas,
sórbeles sangre y
tuétanos,
sécalas,
cápalas,
písalas, gallo
galante,
tuérceles el gaznate,
cocinero,
desplúmalas,
destrípalas, toro,
buey, arrástralas,
hazlas, poeta,
haz que se traguen
todas sus palabras.
Natureza-Morta com
Passáro e Salsichas
(Carlo Magini: pintor
italiano)
As Palavras
Faze-as virar,
colhe-as pelo rabo
(chiem, putas)
fustiga-as,
às insubmissas
dá-lhes açúcar na boca,
infla-as, balões,
perfura-as,
chupa-lhes o sangue e
tutanos,
seca-as,
castra-as,
pisa-as, galo
galante,
torce-lhes o gasganete,
cozinheiro,
depena-as, touro,
boi, arrasta-as,
faze-as, poeta,
zela pela absorção de
todas as tuas palavras.
Referência:
PAZ, Octavio. Las palabras. In: ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía universal. Tomo III. América
2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 73-74.
Nenhum comentário:
Postar um comentário