Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de março de 2015

Vicente Huidobro - A Poesia É um Atentado Celeste

A poesia é um atentado celeste, diz-nos o poeta chileno Vicente Huidobro. Mas este é o caso de um poema no qual o seu título deixa margem a inúmeras interpretações, haja vista que nos versos livres que o compõem não se externaliza a conexão destes com o dístico.

Há uma lista apreciável de elementos antitéticos que mais parecem divagações conflituosas de um estado de espírito a quilômetros da beatitude: ausência e presença; espera e retorno; querer e não querer; estar e não estar; linguagem própria e de terceiros; dor e ternura; grito e silêncio. E um processo contínuo de conversão, de transubstanciação de uma conjuntura à outra. Tudo muito maleável como a própria vida!

J.A.R. – H.C.

Vicente Huidobro
(1893-1948)

La Poesía Es un Atentado Celeste

Yo estoy ausente pero en el fondo de esta ausencia
Hay la espera de mí mismo
Y esta espera es otro modo de presencia
La espera de mi retorno
Yo estoy en otros objetos
Ando en viaje dando un poco de mi vida
A ciertos árboles y a ciertas piedras
Que me han esperado muchos años
Se cansaron de esperarme y se sentaron

Yo no estoy y estoy
Estoy ausente y estoy presente en estado de espera
Ellos querrían mi lenguaje para expresarse
Y yo querría el de ellos para expresarlos
He aquí el equívoco el atroz equívoco

Angustioso lamentable
Me voy adentrando en estas plantas
Voy dejando mis ropas
Se me van cayendo las carnes
Y mi esqueleto se va revistiendo de cortezas
Me estoy haciendo árbol Cuántas veces me he ido
                                     convirtiendo em otras cosas...
Es doloroso y lleno de ternura

Podría dar un grito pero se espantaría la transubstanciación
Hay que guardar silencio Esperar en silencio

Time for Outrage
Ali Banisadr: artista iraniano

A Poesia É um Atentado Celeste

Estou ausente mas no fundo desta ausência
Há a espera de mim mesmo
E esta espera é outro modo de presença
A espera de meu retorno
Eu estou em outros objetos
Ando em viagem dando um pouco de minha vida
A certas árvores e a certas pedras
Que me têm esperado por muitos anos
Cansaram-se de me esperar e se sentaram

Eu não estou e estou
Estou ausente e estou presente em estado de espera
Eles queriam minha linguagem para expressar-se
E eu queria a deles para expressá-los
Eis aqui o equívoco o atroz equívoco

Angustioso lamentável
Vou-me adentrando nestas plantas
Vou deixando minhas roupas
Minhas carnes tornam-se flácidas
E meu esqueleto vai se revestindo de crostas
Estou me fazendo árvore Quantas vezes tenho me
                                     convertido em outras coisas...
É doloroso e cheio de ternura

Poderia dar um grito contudo a transubstanciação seria
                                     tomada de surpresa
Há que guardar silêncio Esperar em silêncio

Referência:

HUIDOBRO, Vicente. La poesía es un atentado celeste. In: BRASCÓ, Miguel (Selección y notas). Antología universal de la poesía. Santa Fe, AR: Libreria y Editorial Castellvi S.A., 1953. p. 127-128.

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