A poesia é um atentado celeste, diz-nos o poeta chileno Vicente
Huidobro. Mas este é o caso de um poema no qual o seu título deixa margem a inúmeras
interpretações, haja vista que nos versos livres que o compõem não se
externaliza a conexão destes com o dístico.
Há uma lista apreciável de elementos antitéticos que mais parecem
divagações conflituosas de um estado de espírito a quilômetros da beatitude:
ausência e presença; espera e retorno; querer e não querer; estar e não estar;
linguagem própria e de terceiros; dor e
ternura; grito e silêncio. E um processo contínuo de conversão, de transubstanciação de uma conjuntura à outra. Tudo muito maleável como a própria vida!
J.A.R. – H.C.
Vicente Huidobro
(1893-1948)
La Poesía Es un Atentado Celeste
Yo estoy ausente pero
en el fondo de esta ausencia
Hay la espera de mí
mismo
Y esta espera es otro
modo de presencia
La espera de mi
retorno
Yo estoy en otros
objetos
Ando en viaje dando
un poco de mi vida
A ciertos árboles y a
ciertas piedras
Que me han esperado
muchos años
Se cansaron de
esperarme y se sentaron
Yo no estoy y estoy
Estoy ausente y estoy
presente en estado de espera
Ellos querrían mi
lenguaje para expresarse
Y yo querría el de
ellos para expresarlos
He aquí el equívoco
el atroz equívoco
Angustioso lamentable
Me voy adentrando en
estas plantas
Voy dejando mis ropas
Se me van cayendo las
carnes
Y mi esqueleto se va
revistiendo de cortezas
Me estoy haciendo
árbol Cuántas veces me he ido
convirtiendo em otras
cosas...
Es doloroso y lleno
de ternura
Podría dar un grito
pero se espantaría la transubstanciación
Hay que guardar
silencio Esperar en silencio
Time for Outrage
Ali Banisadr: artista
iraniano
A Poesia É um Atentado Celeste
Estou ausente mas no
fundo desta ausência
Há a espera de mim
mesmo
E esta espera é outro
modo de presença
A espera de meu
retorno
Eu estou em outros
objetos
Ando em viagem dando
um pouco de minha vida
A certas árvores e a
certas pedras
Que me têm esperado
por muitos anos
Cansaram-se de me esperar
e se sentaram
Eu não estou e estou
Estou ausente e estou
presente em estado de espera
Eles queriam minha
linguagem para expressar-se
E eu queria a deles
para expressá-los
Eis aqui o equívoco o
atroz equívoco
Angustioso lamentável
Vou-me adentrando
nestas plantas
Vou deixando minhas
roupas
Minhas carnes
tornam-se flácidas
E meu esqueleto vai se
revestindo de crostas
Estou me fazendo
árvore Quantas vezes tenho me
convertido em outras
coisas...
É doloroso e cheio de
ternura
Poderia dar um grito contudo
a transubstanciação seria
tomada de surpresa
Há que guardar
silêncio Esperar em silêncio
Referência:
HUIDOBRO, Vicente. La poesía es un
atentado celeste. In: BRASCÓ, Miguel (Selección y notas). Antología universal de la poesía. Santa Fe, AR: Libreria y
Editorial Castellvi S.A., 1953. p. 127-128.
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