Borges é sempre uma referência segura, mesmo quando leva o leitor para
além da realidade, contando histórias pretensamente verdadeiras (rs).
Mas se dizemos “referência segura”, aludimos à beleza e perfeição de sua
prosa: um porto invulnerável ao qual recorrem aqueles sedentos de poesia. E
tanto mais se o poeta se compraz em descrever sob a forma de metáforas esse
fluxo ininterrupto, esse “rio interminável” que constitui o fenômeno poético.
Entre a carência e a imortalidade!
J.A.R. – H.C.
Jorge Luis Borges
(1899-1986)
Arte Poética
Mirar el río hecho de
tiempo y agua
y recordar que el
tiempo es otro río,
saber que nos
perdemos como el río
y que los rostros
pasan como el agua.
Sentir que la vigilia
es otro sueño
que sueña no soñar y
que la muerte
que teme nuestra
carne es esa muerte
de cada noche, que se
llama sueño.
Ver en el día o en el
año un símbolo
de los días del
hombre y de sus años,
convertir el ultraje
de los años
en una música, un
rumor y un símbolo.
Ver en la muerte el
sueño, en el ocaso
un triste oro, tal es
la poesía
que es inmortal y
pobre. La poesía
vuelve como la aurora
y el ocaso.
A veces en las tardes
una cara
nos mira desde el
fondo de un espejo;
el arte debe ser como
ese espejo
que nos revela
nuestra propia cara.
Cuentan que Ulises,
harto de prodigios,
lloró de amor al
divisar su Itaca
verde y humilde. El
arte es esa Itaca
de verde eternidad,
no de prodigios.
También es como el
río interminable
que pasa y queda y es
cristal de un mismo
Heráclito
inconstante, que es el mismo
y es otro, como el
río interminable.
Récita do Próprio Poeta
Arte Poética
Olhar o rio feito de
tempo e água
E recordar que o
tempo é outro rio,
Saber que nos
perdemos como o rio
E que os rostos
passam como a água.
Sentir que a vigília
é outro sonho
Que sonha não sonhar
e que a morte
Que nossa carne teme
é essa morte
De cada noite, que se
chama sonho.
Ver no dia ou no ano
um símbolo
Dos dias do homem e dos
seus anos,
Converter o ultraje dos
anos
Numa música, num
rumor, num símbolo,
Ver na morte o sonho,
no ocaso
Um ouro triste, tal é
a poesia
Que é imortal e
pobre. A poesia
Retorna como a aurora
ou o ocaso.
Às vezes nas tardes
uma cara
Nos olha desde o
fundo de um espelho;
A arte deve ser como
esse espelho
Que nos revela nossa
própria cara.
Contam que Ulisses,
farto de prodígios,
Chorou de amor ao
divisar sua Ítaca
Verde e humilde. A
arte é essa Ítaca,
De verde eternidade,
não de prodígios.
Também é como o rio
interminável
Que passa e fica e é
o cristal de um mesmo
Heráclito
inconstante, que é o mesmo
E é outro, como o rio
interminável.
Referência:
BORGES, Jorge Luis. Arte poética. In:
JIMENÉZ, José Olivio (Selección, prólogo y notas). Antología de la poesía hispanoamericana contemporánea: 1914-1970.
7. ed. Madrid, ES: Alianza Editorial, 1984. p. 204-205. (El Libro del Bolsillo)
Meu Caro amigo, como é bom descobrir e logo reconhecer um poeta de irreproduzíveis cores. Achei seu blog de uma simplicidade tão sofisticada, que foi difícil sair. Obrigado por compartilhar tanto bom gosto e vontade de viver. Um forte abraço. Maurício.
ResponderExcluirCaro Maurício: agradeço bastante pelo elogio. Espero manter ainda por um bom tempo este bloguinho. Um grande abraço. J.A.R.
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