Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de março de 2015

Sophia de Mello Breyner Andresen - As Pessoas Sensíveis

Num poema marcado pelo escárnio, a poetisa portuguesa Sophia de Mello dirige-se àqueles que, arrogando-se a qualidade da sensibilidade, exploram o suor e o sangue de terceiros para atingir os seus objetivos; não são capazes de matar os animais, mas os comem. Ao final, Sophia emprega uma paródia bíblica, embora invertida, para sacramentar o aludido efeito sarcástico: “Perdoai-lhes Senhor, porque eles sabem o que fazem”.

J.A.R. – H.C.

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto, em 1919, e [faleceu em Lisboa, em 2004](*). Começou a publicar poesias em 1944, contando-se desde então abundante criação poética. O poema desta postagem foi extraído de sua obra “Livro Sexto”, de 1962 (COSTA E SILVA; BUENO, 1999, p. 450).

Sophia de Mello
(1919-2004)

As Pessoas Sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”
Assim nos foi imposto
E não:
“Com o suor dos outros ganharás o pão”.

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Nota:

(*) Informação extraída deste endereço na wikipédia.

Referência:

ANDRESEN, Sophia de Melo Breyner. As pessoas sensíveis. In: COSTA E SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (Organização e Introdução). Antologia da poesia portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro, RJ: Lacerda, 1999. p. 83.

Nenhum comentário:

Postar um comentário