O poeta e crítico goiano Gilberto Mendonça Teles pode não ser um
escritor afeito a muitas badalações midiáticas. Mas que ele se inscreve entre
os grandes da literatura brasileira, desde meados da segunda metade do século
passado, dificilmente há de se contraditar: a ótima seleção do capixaba, também
poeta e escritor, Luiz Busatto prova-o sem necessidade de maiores
considerações.
Sua poesia perpassa os movimentos modernistas e de vanguarda, com
recriações de palavras e perorações no âmbito da própria poesia, metalinguagem portanto,
como a que transcrevemos a seguir.
J.A.R. – H.C.
Gilberto M. Teles
(n. 1931)
As Palavras
As palavras engendram
suas próprias
aventuras no espaço. Sendo
neutras,
circulam como sombras
devolutas
surpresas nos seus
altos ministérios.
De vez em quando
saltam novas ordens
desses seres volúveis
que se alinham
noutro nível,
por entre a voz do que é
e a franja do
mistério que se instaura
e
transparece,arbitrário.
Ante os nervos das
cordas e dos tímpanos
uma falavra – folhiflor – desliza
motivada na
linguagem,
rio
calcá
rio que atravessa e executa
a solidão humana.
Referência:
TELES, Gilberto Mendonça. As palavras.
In: __________. Melhores poemas. Seleção de Luiz Busatto. 4. ed. São Paulo:
Global, 2007. p. 75. (Coleção ‘Melhores Poemas’)
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