Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de março de 2015

Juan del Valle y Caviedes - Privilégios do Pobre

Vejamos se o pobre detém algum tipo de privilégio. O poema do espanhol Caviedes expõe os preconceitos de classe. Até mesmo a que aparece conexa ao interesse de trabalhar: a ambição desmedida.

Como se costuma se dizer, a riqueza do pobre é tão apenas possuir um céu amplo, coberto de estrelas, porque nem casa para morar possui. Em contraposições como tais que o poeta satiriza não só a sociedade de seu tempo. Afinal, algo mudou desde então? Parece-me que não. E este torrão é um eloquente exemplo!

Nota: A tradução abaixo apresentada é atribuída ao poeta lusitano José Bento. Segundo a Wikipédia, trata-se de um “importante divulgador da cultura hispânica em Portugal, tendo começado a fazer traduções do espanhol para o português há mais de meio século”.

J.A.R. – H.C.

Juan del Valle y Caviedes
(1652?-1696?)

Privilegios del Pobre

El pobre es tonto, si calla,
y si habla es majadero;
si sabe, es sólo hablador,
y si afable, es embustero.

Si es cortés, entremetido,
cuando no sufre, soberbio;
cobarde, cuando es humilde,
y loco cuando es resuelto.

Si valiente, es temerario,
presumido, si es discreto;
adulador, si obedece,
y si se excusa, grosero.

Si pretende, es atrevido,
si merece, es sin aprecio;
su nobleza es nada vista,
y su gala, sin aseo.

Si trabaja, es codicioso,
y por el contrario extremo;
un perdido, si descansa...
¡Miren si son privilegios!

Ilustrações de Aldemir Martins
(“Vidas Secas” - Graciliano Ramos)

      Privilégios do Pobre

Se se cala, o pobre é parvo,
um maçador, se é palreiro;
bisbilhoteiro, se sabe,
se afável, é embusteiro.

Se é gentil, intrometido,
se não atura, é soberbo;
cobarde, quando é humilde,
se é audaz, não possui tento.

Se é valente, é temerário,
presunçoso, se é discreto;
adulador, se obedece,
se algo recusa, é grosseiro.

Com pretensões, atrevido,
com méritos, não ganha apreço;
sua nobreza é oculta,
sua veste sem esmero.

se trabalha, é ambicioso,
e, pelo contrário extremo;
um perdido, se descansa...
Vejam bem que privilégio!

Referência:

CAVIEDES, Juan del Valle y. Privilegios del pobre. In: ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía universal. Tomo III. América 2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 224.

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