Vejamos se o pobre detém algum tipo de privilégio. O poema do espanhol
Caviedes expõe os preconceitos de classe. Até mesmo a que aparece conexa ao
interesse de trabalhar: a ambição desmedida.
Como se costuma se dizer, a riqueza do pobre é tão apenas possuir um céu
amplo, coberto de estrelas, porque nem casa para morar possui. Em
contraposições como tais que o poeta satiriza não só a sociedade de seu tempo.
Afinal, algo mudou desde então? Parece-me que não. E este torrão é um eloquente
exemplo!
Nota: A tradução abaixo apresentada é atribuída ao poeta lusitano José
Bento. Segundo a Wikipédia, trata-se
de um “importante divulgador da cultura hispânica em Portugal, tendo começado a
fazer traduções do espanhol para o português há mais de meio século”.
J.A.R. – H.C.
Juan del Valle y Caviedes
(1652?-1696?)
Privilegios del Pobre
El pobre es tonto, si calla,
y si habla es
majadero;
si sabe, es sólo
hablador,
y si afable, es
embustero.
Si es cortés, entremetido,
cuando no sufre, soberbio;
cobarde, cuando es
humilde,
y loco cuando es
resuelto.
Si valiente, es temerario,
presumido, si es discreto;
adulador, si obedece,
y si se excusa, grosero.
Si pretende, es atrevido,
si merece, es sin
aprecio;
su nobleza es nada
vista,
y su gala, sin aseo.
Si trabaja, es codicioso,
y por el contrario
extremo;
un perdido, si
descansa...
¡Miren si son
privilegios!
Ilustrações de Aldemir Martins
(“Vidas Secas” - Graciliano
Ramos)
Privilégios do Pobre
Se se cala, o pobre é parvo,
um maçador, se é
palreiro;
bisbilhoteiro, se
sabe,
se afável, é
embusteiro.
Se é gentil, intrometido,
se não atura, é
soberbo;
cobarde, quando é
humilde,
se é audaz, não
possui tento.
Se é valente, é
temerário,
presunçoso, se é
discreto;
adulador, se obedece,
se algo recusa, é
grosseiro.
Com pretensões,
atrevido,
com méritos, não
ganha apreço;
sua nobreza é oculta,
sua veste sem esmero.
se trabalha, é
ambicioso,
e, pelo contrário
extremo;
um perdido, se
descansa...
Vejam bem que
privilégio!
Referência:
CAVIEDES, Juan del Valle y. Privilegios
del pobre. In: ARDUZ, J. C. Iván Canelas (Ed.). Antología de la poesía universal. Tomo III. América
2. Oruro, BO: Latinas, 1996. p. 224.
Nenhum comentário:
Postar um comentário